domingo, 8 de novembro de 2009

Juanita Castro irmã de Fidel Castro e suas revelações sobre espionagem - Por Flávio Tavares no Zero Hora

Todas as histórias de espiões são fantásticas em si próprias. A espionagem é atividade secreta e pública ao mesmo tempo, tão antiga quanto aquela outra, a profissão mais velha do mundo – a prostituição. No fundo, ambas se assemelham ou se igualam. Em cada uma, tudo depende da simulação, do faz de conta retribuído em dinheiro. O êxito está em saber mentir ou na capacidade de enganar.

Nem a fantasia da melhor ficção de espionagem, porém, supera o que Juanita Castro (foto) revela agora num livro de memórias sobre os anos em que trabalhou em Cuba como espiã da CIA norte-americana. A irmã de Fidel Castro desnuda tudo e conta como a brasileira Virgínia a recrutou para o mais sofisticado órgão de espionagem do planeta.

Sim, a brasileira Virgínia Leitão da Cunha, casada com Vasco Leitão da Cunha, embaixador do Brasil em Cuba, recrutava espiões para os Estados Unidos.
No início do governo de Fidel, em 1959 (quando os guerrilheiros vitoriosos eram independentes e não tinham optado pelo socialismo ao estilo soviético), nos salões da embaixada brasileira em Havana, a embaixatriz ouviu as críticas de Juanita à reforma agrária e iniciou seu trabalho. Ofereceu dinheiro de uma potência estrangeira e apresentou sua amiga aos agentes secretos da Central Intelligence Agency.

Que a irmã de Fidel tenha se transformado na agente “Donna” da CIA, é um assunto dos cubanos ou um penoso problema de família. Muito pior fez Caim ao matar Abel e nem por isso a humanidade se estancou.

Terrivelmente fantástica, porém, é a participação da embaixatriz do Brasil. Se recrutava agentes secretos, a única explicação plausível é que trabalhava para a CIA. Ninguém granjeia confiança numa engrenagem tão sofisticada só por ser simpática.

Mas, se trabalhava para a CIA, o marido sabia? Tudo leva a crer que sim, pois não há evidências de que o casal vivesse sequer em discordância. Se ele o sabia, também conhecia que ela utilizava as imunidades e vantagens diplomáticas para infiltrar-se onde fosse.

A teia nos leva a uma trama infinita e desemboca numa pergunta óbvia, quase constatação: e se o próprio marido trabalhasse para a CIA?

Leitão da Cunha assumiu a embaixada em Cuba no governo Juscelino Kubitscheck e só saiu de Havana no final de 1961, quando João Goulart o nomeou embaixador na União Soviética. No auge da Guerra Fria, quantas russas terá recrutado nossa embaixatriz? O casal detestava o frio, mas só saiu de Moscou após o golpe de 1964, quando Leitão da Cunha foi nomeado ministro de Relações Exteriores do governo de Castelo Branco.

Com ele, começa a política de submissão incondicional aos EUA. Foram os anos em que nosso (nosso??) embaixador em Washington bradava em público que “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”, política que nem Costa e Silva ou Médici mantiveram como regra.

À exceção de Juanita, os demais personagens morreram e a teia não se desvendará. Nossas corporações são fechadas, seus membros se protegem uns aos outros como caranguejos na carapaça e, nisso, o itamaraty é um sólido crustáceo. Mas a espionagem concreta está aí e sobrepuja a fantasia.

Espiamos pelas frestas desde pequenos, em travessura, sabendo que é incorreto. Ninguém sabia, porém, que até nisso Deus é brasileiro e nos deu uma Matta Haari com outro nome.

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