Robson Ventura/FolhapressJorginho comanda o Figueirense durante partida do Brasileiro
Jorginho, 47, não parece o mesmo de um ano e meio atrás. Ex-auxiliar de Dunga na seleção brasileira que foi eliminada na Copa-10, trocou o discurso fervoroso e os ataques à imprensa por uma atitude afável, reflexiva.
"Sempre fui respeitador, mesmo quando fazia uma colocação mais incisiva", disse à Folha o hoje técnico do Figueirense, time-sensação do Campeonato Brasileiro, com 50 pontos, a dois da zona de classificação à Libertadores.
Folha - A campanha do Figueirense é uma surpresa?
Jorginho - Nós sabíamos que não seria fácil, disputar uma vaga [na Libertadores] com grandes clubes, mas, internamente, nunca duvidamos. Procuramos não externar os planos para não parecer loucura, soberba. É como o Alcoólicos Anônimos, passo a passo.
Porque o Figueirense, com menos investimento que vários outros, vai tão bem?
Porque o trabalho teve continuidade. Perdemos o Catarinense, o que pareceu muito ruim na época, mas foi a melhor coisa que nos aconteceu. Tivemos tempo, fizemos pré-temporada, pudemos preparar o time taticamente, montar o elenco. Recuperamos jogadores desmotivados e sem preparo.
Tite já disse que trocaria alto salário por mais estabilidade.
Concordo. No Brasileiro, ficamos seis jogos sem vencer e houve pressão para me demitir. O trabalho teria sido jogado fora.
Já teve proposta para sair?
Já, de um time do Campeonato Brasileiro, mas não cito o nome de jeito nenhum. Não saí porque não era a hora.
O sucesso no Figueirense tem algum significado de revanche, pela forma como você saiu da seleção brasileira?
Não, penso [isso] de forma nenhuma. Não quero responder a ninguém, porque eu sei, sempre soube da minha capacidade. O trabalho na seleção foi muito bem-feito. Nós perdemos um jogo, não perdemos um trabalho. Tudo foi feito com muito amor, com muito critério, dedicação.
Você se arrepende de alguma decisão tomada na seleção?
Não. O trabalho foi muito bem planejado e executado. Perdemos nos 45 minutos de um jogo, que é algo que pode acontecer com qualquer equipe. Quando perdemos a Copa do Mundo [para a Holanda, nas quartas de final] algumas matérias diziam que nosso time era desequilibrado. Um ano antes, a mesma equipe virou um 2 a 0 contra os EUA na Copa das Confederações. Desfalcada, ganhou da Argentina na Copa América [de 2007], que era a sensação do momento. Para muitos cronistas, gente do futebol, perderíamos com facilidade. Nos classificamos para a Copa do Mundo ao ganhar da Argentina lá na casa deles. Perdemos um jogo. Em outras situações, outras seleções, a seleção atual, quando há derrotas, nunca se fala sobre isso, sobre desequilíbrio emocional.
Ficou alguma mágoa?
Foram quatro anos de experiências maravilhosas. Em três anos e meio conquistamos tudo, mas perdemos a Copa, que é o ápice. Isso fica marcado na nossa vida. A única coisa que eu lamento, que foi acontecendo ao longo de 2010, foi essa distância grande entre nós e a imprensa. Esses arranhões que aconteceram, isso foi desnecessário, dos dois lados, tanto da imprensa quanto do nosso. Na Copa do Mundo, os dois lados foram culpados.
Você tirou alguma lição disso?
Precisamos ter um ambiente profissional, dos dois lados. Tem que haver do nosso lado e do lado da imprensa. No Figueirense, eu não preciso ser amigo dos repórteres, mas temos excelente relacionamento, de respeito. Experiência como a da Copa do Mundo eu não vou passar de novo, a não ser em outra Copa, e os erros cometidos, jamais cometerei no futuro.
Como você lida com a religião no seu time hoje?
Eu nunca trabalhei com religião. Uma coisa era o Jorginho atleta, atleta de Cristo. Quando terminei a carreira, nunca fiz reunião, como técnico, nunca fiz. É um mito que as pessoas criam. Sou evangélico, amo Deus, a palavra de Deus, mas não confundo meu trabalho com cristianismo, nunca confundi. Nunca fiz no Figueirense, no Goiás, no América, na seleção. Se os jogadores quiserem fazer culto, reunião, eu permito, mas não participo. Na seleção, eu nunca participei. Mas, quando se perde, é preciso encontrar alguém para crucificar.
Pretende voltar à seleção?
A seleção está bem servida com o Mano [Menezes], mas espero voltar. Os quatro anos ali dentro me deram uma visão muito clara como auxiliar e como treinador, porque auxiliar não deixa de ser treinador, é o objetivo futuro. Sei que agora não. Mas, depois de 2014, com certeza.
Tem falado com o Dunga?
Sempre. É meu amigo, meu irmão. Interessante que a gente nunca foi amigo enquanto era jogador, hoje somos muito amigos. Ele vai voltar ano que vem e vai demonstrar todo o valor dele. Fonte: Folha Online, reportagem de Martín Fernandez
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quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Nunca confundi a religião com o futebol, diz Jorginho
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