O sistema financeiro mundial parece ter descoberto algo que Caetano Veloso já cantava há muitos anos: alguma coisa está fora da ordem.
O Congresso chegou a um acordo temporário para evitar o calote dos EUA, mas a percepção de que “algo se quebrou” já havia se instalado.
O rebaixamento da nota de títulos americanos por uma agência de risco agravou o problema, pois os títulos dos EUA sempre foram o porto seguro para os mercados e para os Estados nacionais. Mas, antes do rebaixamento, já tínhamos quatro dias de desabamento das Bolsas mundiais.
Qual o caminho para a superação desse aparente caos?
Bem, talvez eu não seja a melhor pessoa para apontar soluções, mas parece que, nesse momento, ninguém tem uma resposta boa o suficiente.
Temos a sensação de que as soluções encontradas para a crise de 2008 só empurraram os problemas para a frente. Os trilhões de dólares despejados para salvar os bancos foram outra medida momentânea, talvez a mais fácil para se evitar uma questão politicamente muito difícil: quem vai pagar a conta. E o filme se repete.
A Europa reage fortemente à situação atual. A ajuda trilionária concedida em 2008 piorou o endividamento público, o desemprego (porque os recursos serviram mais à especulação do que ao investimento) e gerou pressão para a redução do Orçamento, no momento em que os programas sociais são mais necessários.
Nos EUA, a pressão vem do “outro lado”, de setores que têm força política e não estão dispostos a usá-la para uma mediação. Ao contrário, preferem o confronto, o impasse.
Todos ficamos assustados com o nível de radicalismo ideológico de uma parcela minoritária e significativa da sociedade americana.
Quando a maior democracia do mundo quase coloca o país numa situação de insolvência por disputas políticas irracionais, com repercussões graves para o resto mundo… alguma coisa está fora da ordem. E não é só na economia.
Muitos analistas avaliam que podemos chegar a uma situação parecida com a da crise de 1929. Pode ser pior.
Hoje, o mundo parece estar padecendo não do problema da falta de recursos para resolver a crise financeira que usurpa e sabota o futuro das economias. Como alguém já disse, nosso maior padecimento é o mal do excesso de ambição, de consumo, de poder e de pressão pelo sucesso.
Como tão bem retratou Charles Ferguson no filme “Trabalho Interno”, ganhador do Oscar de melhor documentário deste ano, o grande problema é o da “falta da falta”, sobretudo de sentido público e de vergonha por não mais se usar a ética como guia para referenciar escolhas e ações.
Se algo está realmente fora da ordem, é a falta de valores.
A crise na economia é apenas uma das consequências. Fonte: Folha de S.Paulo
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segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Falta da falta - Por Marina Silva
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