Muitos se apressam a desejar "feliz 2014", com expectativa de sucesso na eleição como resultado de uma aposta na economia. Os números em jogo são os do PIB: governistas querem um "pibão" que expresse rapidez no crescimento, a oposição torce por mais um ano de "pibinho". Perde-se tempo nessa combinação de equívocos.
Todos sabem que o PIB mede quantidade, e não qualidade da atividade econômica. Seu aumento não representa necessariamente melhoria em educação, saúde e outras dimensões relevantes da vida, pode até embutir uma degradação cujo efeito nefasto será sentido no futuro. Apostar apenas nele, contra ou a favor, é manter a ilusão do crescimento que impede a visão do desenvolvimento sustentável e da mudança civilizatória necessária para enfrentar a crise global.
Desmatamento gera emprego e renda? Pois imaginemos a quantidade e a qualidade muito maior do trabalho e da riqueza gerados pelo sábio aproveitamento das florestas.
Grandes usinas são necessárias à produção de energia para as indústrias? Imaginemos a energia limpa, abundante e distribuída para todos que pode ser gerada em pequenas unidades regionais de matrizes diversas: água, vento, sol e plantas, diminuindo a dependência dos combustíveis fósseis. Para completar, imaginemos a riqueza e o bem-estar em longo prazo que resulta do investimento em educação e ciência, arte e cultura, tecnologia e criatividade.
Os índices expressam ideia de economia focada no aspecto monetário, importante, mas insuficiente até na gestão de uma empresa, quanto mais no desenvolvimento de um país.
O equívoco se agrava na dimensão ética: torcer pelo fracasso ou pelo sucesso, na postura do "quanto pior para eles, melhor para nós", é condicionar a solidariedade --humana ou mesmo nacional-- ao domínio de uma facção.
Essa sede de poder é resquício dos totalitarismos do século passado, que precisamos superar por uma nova qualidade da ação política. Em vez da inercial disputa em patamares rebaixados, nosso desafio é fazê-la a partir do reconhecimento dos ganhos e da manutenção do que é justo e estratégico ao país.
2013 não é só a antessala de uma disputa eleitoral, é uma oportunidade de redefinir projetos e prioridades. Bem entendem isso os prefeitos que iniciam sua gestão com esperança de fazer, em suas cidades, algo além de manter o trânsito engarrafado, a coleta do lixo e as facilidades do mercado imobiliário.
A crise, que não é só econômica, nos dá oportunidade de rever padrões sociais que nos dominam desde o período colonial, assim como a Europa está às voltas com conflitos que têm origem na Idade Média.
Desadaptar-se dá trabalho. Mas já sabemos, nos disse o poeta, que vale a pena, se a alma não é pequena. Fonte: Folha Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário