Václav Klaus é uma das figuras políticas mais controversas da União Europeia. Presidente da República Tcheca, é um ferrenho defensor do liberalismo. Ele atribui a crise europeia ao excesso – e não à escassez – de regulação da economia. Klaus também acredita que o aquecimento global não é causado pelos humanos. E que o fenômeno não deve ser considerado nas políticas de governo. No livro Planeta azul em algemas verdes, lançado no Brasil em 2010, o economista afirma que seria mais conveniente priorizar o enriquecimento dos países antes de destinar fundos à questão climática. Segundo ele, no futuro, possivelmente teremos mais recursos tecnológicos para enfrentar o desafio. Diz também que há um boicote aos pesquisadores céticos [assim como se boicotam pesquisas e artigos criacionistas e dos céticos da macroevolução]. Ele acusa os ambientalistas de colocarem em risco a liberdade, a democracia e a economia dos países. Compara o boicote aos cientistas céticos às práticas do antigo regime comunista. Klaus concedeu a entrevista por e-mail.
Por que o senhor afirma que o debate sobre o aquecimento global dá importância a apenas um dos lados?
Entrei no debate do aquecimento global no meio da década passada, quando percebi que a voz dos economistas era quase nula. Bem antes disso, porém, a ideologia do ambientalismo já era um problema. Um exemplo foram os prognósticos do infame Clube de Roma (grupo de intelectuais que fez projeções sobre desenvolvimento sustentável nos anos 70). Minha primeira discussão na TV com Al Gore (ex-vice-presidente americano) sobre a incoerência do aquecimento global produzido pelo homem ocorreu em Nova York, em fevereiro de 1992, alguns meses antes da Eco 92, no Rio de Janeiro.
As maiores organizações científicas, como a Associação Mundial de Meteorologia, a Sociedade Real Britânica para a Ciência, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e o IPCC, painel da ONU para o clima, afirmam que o aquecimento global é causado pelo homem e coloca a civilização em perigo. Estão todas erradas?
A ciência é feita por cientistas, e não por centros de pesquisas, muitos deles politicamente engajados. O IPCC não é um centro de pesquisas, mas uma organização altamente politizada sob os auspícios da ONU. O Hadley Center (principal instituto de meteorologia e clima britânico) não é uma organização neutra, mas um grupo de ativistas pró-aquecimento global. No MIT há cientistas do lado do alarmismo do aquecimento global. Mas há também os que estão contra. O físico da atmosfera Richard Lindzen, professor de meteorologia no MIT, é um deles. (Lindzen diz que os cientistas fazem declarações ambíguas, a imprensa as tornam alarmistas e os políticos sustentam a mentira.) A Sociedade Real também não é um centro de pesquisas. É um agregador de diversas organizações científicas.
Se os maiores centros de pesquisas do mundo não são confiáveis em relação ao aquecimento global, devemos pressupor que estão errados em outros assuntos?
Não é preciso olhar desse modo. Nenhuma pessoa racional questionaria a ciência em si. Pessoas como eu não têm problemas com a ciência, mas com a ciência politizada. Como ex-cientista, acredito na ciência, mas estou em alerta quanto ao mau uso da ciência na política e pelos políticos.
Os cidadãos de seu país compartilham sua opinião sobre o aquecimento global?
Os tchecos são bem racionais. Nas pesquisas de opinião, a porcentagem dos que acreditam na doutrina do aquecimento global está abaixo dos 50%.
O senhor afirma que a natureza sempre conseguiu se adaptar às mudanças climáticas que ocorreram na história da Terra. Mas, agora, segundo as previsões, as mudanças no clima serão mais rápidas. Segundo alguns estudos, as florestas de 70% das regiões teriam de migrar 1.500 metros por ano para acompanhar as alterações nas zonas climáticas. Como elas conseguiriam isso?
Nunca vi evidência de que há uma aceleração das mudanças no clima. Isso é um argumento apenas dos ideólogos do ambientalismo. Os dados não provam isso. A média global da temperatura na Terra subiu 0,74 grau no último século. É totalmente irresponsável espalhar dados falsos e enganosos (o relatório do IPCC afirma que a temperatura pode subir até 4 graus ao fim deste século).
Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial e ex-secretário do Tesouro britânico, fez o mais completo levantamento dos custos das mudanças climáticas. Segundo ele, se não fizermos nada, o impacto do clima nos faria perder, ao menos, 5% do PIB mundial todos os anos. Ele está errado?
O senhor Stern está, para minha tristeza, errado. Seu “relatório” não é um texto científico, mas sim um panfleto tendencioso sobre o aquecimento global. Ele argumenta que, se a humanidade não fizer nada, o PIB mundial em 2100 será 5% mais baixo do que seria sem nenhum aquecimento global. Nicholas Stern assume que o PIB mundial estará oito vezes mais alto que agora em países em desenvolvimento. E que a riqueza em países em desenvolvimento será aproximadamente cinco vezes maior do que a riqueza dos países desenvolvidos hoje.
O senhor diz que há uma campanha para silenciar as vozes que se elevam contra os ambientalistas. O senhor já foi censurado?
Como presidente de um país tenho privilégios a esse respeito. É mais fácil para quem censura complicar a vida de outras pessoas que estão a meu redor. É também uma ironia da história ser mais fácil para os cientistas publicarem críticas à doutrina do aquecimento global quando eles estão aposentados, porque assim eles não correm o risco de ter problemas com seu emprego, promoções, publicações, etc.
Se há cientistas que dão palestras e escrevem livros contra as políticas para combater as mudanças climáticas, como afirmar que há censura?
Não uso o termo “censura”. Estou me referindo à não publicação ou à publicação tardia de artigos sérios, trabalhos de cientistas promissores que são simplesmente dispensados. Isso me lembra os procedimentos usados no regime comunista de meu país.
O senhor não acredita que é necessário limitar as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global, como o gás carbônico?
Certamente não. Promover essa ideia é um engano trágico em muitos aspectos. Primeiro, porque o gás carbônico não é um poluente. (O gás está presente naturalmente na atmosfera, mas o excesso, segundo cientistas, está relacionado às mudanças climáticas.) Em segundo lugar, eu não acredito – e não estou sozinho – que as emissões de gás carbônico geradas pelo homem sejam responsáveis pelo aquecimento global. As restrições não vão acabar com as flutuações climáticas.
Como o senhor vê acordos internacionais, como o Protocolo de Kyoto, que limitam a emissão dos países e permitem a troca de créditos entre eles?
A troca de emissões é um mero jogo com o mercado. É o Estado jogando com o mercado. A experiência da República Tcheca com o comunismo mostrou que não se deve brincar com o mercado. [...] Fonte: Revista Época
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sexta-feira, 22 de julho de 2011
“A mudança do clima não depende dos humanos”
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