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sábado, 24 de setembro de 2011

Escolas estaduais adotam câmeras dentro das salas

Henry Milleo/Gazeta do PovoCâmera na sala de aula no Instituto de Educação Pietro Martinez, em Ponta Grossa

Mais da metade dos colégios monitoram comportamento dos alunos por sistema

Alunos vigiados também dentro das salas. Para coibir os atos de vandalismo, brigas e furtos no ambiente escolar – e ainda manter a ordem nas aulas –, diretores têm dado sinal positivo para a instalação de câmeras dentro das classes.

Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, o Núcleo Regional de Educação (NRE) estima que 40 dos 84 colégios estaduais tenham adotado o sistema. O colégio estadual Instituto de Educação Pietro Martinez, que abriga quase 2 mil estudantes, foi o pioneiro na prática na cidade: foram gastos R$ 20 mil para custear as 48 câmeras do estabelecimento. “Queríamos investir esse dinheiro em outros projetos, mas havia a necessidade: 90% dos problemas que ocorrem em sala hoje, como discussões, trabalhos e cadernos perdidos, são resolvidos com essas câmeras”, afirma o diretor auxiliar do colégio, Leandro Bueno.

De acordo com ele, até problemas que envolvem professores são solucionados pelo monitoramento.

“Existe professor que persegue aluno, isso acontece. Com a filmagem podemos orientar melhor o professor e aprimorar também o ensino”, salienta Bueno.

Furtos

A estudante Thaline Stalzner não vê problema na instalação de câmeras. Para ela, os dispositivos só trouxeram benefícios. “Nossa sensação de segurança aumentou. Houve uma redução nas brigas e discussões em sala e diminuiu o risco de furtos”, diz.

O Colégio Estadual Regente Feijó, que tem 2,8 mil alunos, também em Ponta Grossa, instalou câmeras nas salas no início deste ano. Segundo a diretora Cleozy Santos, todas as 24 classes receberam o equipamento, além de outras 16 espalhadas pelos corredores e pátio. “Dessa forma, evitamos pequenos furtos que aconteciam eventualmente”, diz.

Apesar de muitas escolas terem aderido às câmeras nas salas, para a chefe do NRE, Maria Isabel Vieira, a inclusão do equipamento não resolve problemas e pode até mesmo disseminar o temor dentro da escola. “O medo não educa, é importante alcançarmos resultados educacionais e pedagógicos. O diálogo com os estudantes e pais deve ser sempre trabalhado, pois é isso o que irá educar de fato o cidadão”, salienta.

Consultada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná disse não existir um levantamento de quantos colégios dispõem deste sistema de monitoramento. Fonte: Gazeta do Povo, reportagem de Diego Antonelli

Método

Especialista questiona medida

O uso de câmeras nas escolas pode criar uma política do medo e da delação no sistema educacional, segundo o mestre em Educação e professor André Rosa. “A sociedade parece se encaminhar para aquela condição que o filósofo francês Michel Foucault anunciava na década de 70, um sistema de excessiva vigilância e de punição. É dessa forma que se está querendo educar os estudantes?”, indaga o especialista.

Ele acredita que ao adotar o sistema de monitoramento o estabelecimento de ensino sinaliza o começo da falência da política educacional. “A utilização de câmeras mostra apenas que o professor não tem condições de desempenhar o seu papel e que é preciso um monitoramento para coibir o aluno de praticar qualquer ato considerado errado. Além disso, a escola parece partir do pressuposto de que todo aluno é um deliquente e que é necessário ‘adestrá-lo’ com o apoio das câmeras. Isso representa a implementação de uma espécie de ditadura em sala de aula”, critica André Rosa, que diz não se opor à adoção de meios tecnológicos nas aulas. “Mas não se pode usá-la de qualquer modo, deve haver uma indicação clara de uso. Definitivamente, monitorar em nada contribui na educação dos estudantes”, afirma.

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