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terça-feira, 2 de março de 2010

PT ameaça deixar o governo Requião

Partido anuncia hoje se deixa a administração estadual em desagravo ao ministro Paulo Bernardo, acusado pelo governador de propor o superfaturamento de uma obra

O PT ameaça romper com o governo de Roberto Requião (PMDB) e entregar os cargos dos secretários de estado petistas, Valter Bianchini (Agricultura) e Lygia Pupato (Ciência e Tec­­­nologia). O anúncio oficial deve ser feito hoje. No caso de ser confirmada a ruptura, marcaria o fim de uma parceria de sete anos entre o PMDB e o PT no Paraná.

A Executiva Estadual do PT fez ontem duas reuniões – uma pela manhã e outra à noite – para discutir uma reação oficial às acusações feitas pelo governador Roberto Requião ao ministro do Planejamento, Paulo Ber­­nardo (PT). De tarde, alguns integrantes do PT chegaram a anunciar o rompimento com o governador, mas o presidente estadual do PT, o deputado estadual Ênio Verri, negou que a decisão tivesse sido tomada.

Desagravo

A possível ruptura pode ser interpretada como um sinal de desagravo do partido ao ministro do Planejamento, acusado por Requião de propor o superfaturamento da construção do desvio ferroviário entre Guarapuava e Ipiranga – obra que nunca saiu do papel.

Na semana passada, o governador acusou Bernardo de propor a construção do ramal por R$ 500 milhões, quando o valor real da obra, segundo Requião, seria de apenas R$ 150 milhões. Ou seja, Bernardo, de acordo com o governador, teria proposto um superfaturamento de R$ 350 milhões.

Sem descartar alianças

Apesar dos atritos entre Requião e os petistas, o presidente do PT no Paraná, Ênio Verri, foi diplomático. Disse que o partido está discutindo o “relacionamento com o governador”. Mas, segundo ele, uma possível saída do governo não deve ser interpretada como um descarte definitivo de uma aliança entre os dois partidos na eleição deste ano, embora PMDB e PT caminhem hoje em direções opostas: o vice-governador deve ser o candidato peemedebista ao Palácio Iguaçu enquanto os petistas tendem a apoiar a candidatura do senador Osmar Dias (PDT).

Verri ontem afirmou que o partido aguarda a vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Paraná, no próximo dia 12, para dar o primeiro passo nos vários “estágios” da aliança com o senador Osmar. Embora não tenha dito claramente, especula-se que um desses estágios seja a tentativa de agregar o PMDB na coligação PT-PDT.

Mas nem todos petistas foram tão diplomáticos. Membro da direção nacional do PT, o deputado federal André Vargas defendeu a saída imediata do partido do governo estadual. “Foi o Requião que saiu da aliança”, disse. “Depois que ele atacou o Paulo Bernardo, não tem mais sentido ficar no governo.”

Ao saber que os petistas poderiam deixar o governo, deputados do PMDB ironizaram. Lembraram que falta um mês para o prazo final da renúncia do próprio Requião, que pretende disputar as eleições deste ano e terá de se desincompatibilizar do cargo até o início de abril.

Os peemedebistas também ironizaram a possibiliade de os dois secretários estaduais do PT deixarem o governo neste período, já que muitos integrantes do primeiro escalão do governo também vão ter de renunciar se quiserem concorrer nas eleições. “Será que eles vão cumprir aviso prévio”, provocou um parlamentar, que não quis ter seu nome divulgado. O deputado Reinhold Stephanes Júnior (PMDB) emendou: “O pessoal do PT é tudo cachorro magro. De­­pois de oito anos, saem do governo na véspera do prazo final”.

Sete anos

O PT do Paraná ajudou Requião a chegar à cadeira de governador nas eleições de 2002 e 2006, principalmente com o apoio eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois partidos trabalharam em conjunto nas duas eleições, mas a aliança foi fundamental na última campanha eleitoral, quando o governador conseguiu reeleger-se ao vencer Osmar Dias pela diferença de 10.479 votos. Contradi­­­toria­­­mente, a “briga” entre Requião e Paulo Bernardo deve acelerar a oficialização de uma aliança dos petistas com Osmar. Fonte: Gazeta do Povo, reportagem de Kátia Chagas e Heliberton Cesca

Reunião petista
Aliança com Osmar está na pauta

Uma possível decisão do PT no Paraná de deixar a base de apoio do governo Roberto Requião (PMDB) pode vir seguida do anúncio de uma aproximação ainda maior com o PDT, que tem o senador Osmar Dias como pré-candidato.

Além de avaliarem ontem o abandono do governo estadual, os dirigentes da executiva estadual também discutiram a “carta de princípios” que irá basear a construção de um programa de governo conjunto com Osmar.

A elaboração do programa conjunto foi definida no início de fevereiro na casa do senador Osmar Dias, em Brasília, na presença do presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra e do presidente do PT-PR, Ênio Verri.

A carta de princípios deve ser elaborada pelos dois partidos e trazer definições ou metas de governo. A partir delas, os líderes das duas legendas devem se reunir para discutir quais diretrizes poderão ser integradas numa possível aliança para as eleições deste ano e quais cada partido terá que abrir mão.

Ontem, ninguém da executiva estadual do PT deu detalhes sobre a carta nem quando poderá ser finalizada.

Já o presidente do PDT no Paraná, deputado Augustinho Zucchi, tentou minimizar a importância da carta de princípios, documento de intenções que serviria para determinar uma aliança entre os dois partidos. Segundo ele, tanto não seria determinante para as alianças que o PDT estaria aberto a outras possíveis alianças. “Na sexta-feira à noite, estive com o (vice-governador Orlando) Pessutti (PMDB) no Sudoeste. É um sinal claro que estamos abertos a conversa sobre a sucessão estadual.”

Palanque para Dilma

A coligação com o PDT interessa ao PT para dar um bom palanque, no Paraná, à ministra da Casa Civil e pré-candidata à Presidência da Re­­pública, Dilma Rousseff. O PDT faz parte da base de sustentação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso desde 2003. (HC)

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