Inspirado no modelo de um dos mais antigos movimentos insurgentes latino-americanos, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o grupo ameaça associar-se a narcotraficantes para patrocinar sua causa: tomar pelas armas o poder de um país com 6 milhões de habitantes e expulsar milhares de agricultores brasileiros espalhados em seu território de 400 mil quilômetros quadrados.
Nascida na virada do milênio, a organização cunhou pela primeira vez seu nome de batismo ao reivindicar a autoria de um atentado, em 13 de março de 2008, no município de Horqueta, a cem quilômetros da fronteira com o Brasil. Após incendiar a fazenda de um colono brasileiro, os guerrilheiros assinaram com tinta branca na parede de um galpão: Exército do Povo Paraguaio (EPP).
Desde então, a sigla tem crescido no imaginário do povo de origem guarani muito mais do que suas ações terroristas e o seu real poder de fogo. A ameaça levou o presidente Fernando Lugo a decretar estado de exceção em cinco departamentos por onde perambulam os insurgentes e os transformou em inimigos públicos número 1. Lugo colocou no encalço da organização as forças armadas e a Polícia Nacional, somando um contingente de 3 mil homens equipados com aeronaves, embarcações e transporte terrestre.
Ao restringir a movimentação clandestina e encurralar 15 comandantes, o presidente Lugo pode fazer com que eles migrem dos sequestros (a principal fonte de renda) para o narcotráfico, a exemplo do que ocorreu com sua mentora colombiana. Na década de 90, as Farc se associaram a cartéis da cocaína para sobreviver à escassez de recursos.
Miséria dos produtores é terreno fértil ao narcoterror
As condições geográficas para que isso acontece já existem. O Departamento de San Pedro, na região central do país, ao mesmo tempo em que é o berço do EPP, abriga 1,2 mil famílias de pequenos agricultores que hoje produzem maconha para intermediários dos cartéis baseados na linha divisória com o Brasil.
A miséria fornece um terreno propício para os guerrilheiros atuarem entre os plantadores da erva. Se conseguirem organizá-los e protegê-los, podem formar uma área livre – onde autoridades não entram – dentro do Paraguai, a exemplo do que já existe na Colômbia.
– Imagine um território livre a 120 quilômetros da fronteira seca com o Paraguai? – espanta-se o delegado federal Fabrízio José Romano, de Ponta Porã (MS).
A possibilidade de uma vizinhança narcoterrorista, ao estilo das temidas Farc, fez autoridades brasileiras agirem. Um grupo da Polícia Federal (PF) do Brasil e outro da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai se associaram para investigar se o EPP tentará sobreviver organizando e protegendo plantadores de maconha. Cogitam até da possibilidade de criar um cartel para abastecer seu principal mercado consumidor, as regiões sul e sudeste do Brasil.
– Os seguidores do EPP irão pelo mesmo caminho das Farc – comentou o policial Nelson Lopez, um dos diretores da Senad, que recebe da PF apoio técnico na investigação, por meio de escutas telefônicas e rastreamento de possíveis conexões dos guerrilheiros com comparsas no Brasil.
Uma eventual robustez financeira do grupo, garantida pela aliança com as drogas, patrocinaria o projeto político do EPP de chegar ao poder. O caminho para isso seria o mesmo já trilhado pelas Farc na Colômbia: infiltrar simpatizantes nos partidos políticos e instituições na linha divisória.
Foi nesse território limítrofe, na avenida que separa Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, que, no início do mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou-se com seu colega paraguaio para, entre outros assuntos, tratar da ameaça binacional. Depois de apertar a mão de Lugo, Lula dirigiu-se a empresários e jornalistas:
– Não podemos permitir que bandidos travestidos de libertadores coloquem a democracia em risco.
Expulsão e morte de brasileiros pelo EPP
Os guerrilheiros têm como bandeira a expulsão dos 400 mil colonos brasileiros (chamados de brasiguaios) que vivem no país, responsáveis por 70% da produção de grãos. Reflexo disso está na beira da BR-163, entre as cidades de Naviraí e Itaquiraí (MS), onde um acampamento abriga 400 famílias, ex-proprietárias de terras no Paraguai e expulsas por grupos de sem-terra organizados e armados pelo EPP. Entre elas, a do gaúcho Gervásio da Silva, 31 anos, que plantava milho e soja:
– Cercaram nossa casa e dispararam tiros. Só deram tempo para sairmos. Ficaram com tudo que havíamos construído nos últimos 20 anos.
Em 22 de abril, na Estância Santa Adélia, em Horqueta, no Departamento de Concepción, foram mortos os brasiguaios Osmar da Silva Souza, Jair Ravelo e Francisco Ramirez, além do policial paraguaio Joaquín Aguero.
A situação foi lembrada no encontro entre os dois presidentes. Lugo fez questão de demonstrar ao seu colega brasileiro que vem agindo para tentar prender os culpados. Com prestígio em baixa no país, ele tenta reverter essa situação seguindo a cartilha de seu colega colombiano, Álvaro Uribe, que fez crescer o apoio popular ao desmistificar a figura do guerrilheiro das Farc, tratando-o como criminoso comum. Estipulou um preço (500 milhões de guaranis ou R$ 150 mil) pela cabeça dos principais líderes da guerrilha e mandou espalhar cartazes e outdoors com as fotos deles. Colheu o primeiro fruto no começo de maio, com a captura de Julián de Jesús Ortiz. Fonte: Zero Hora, reportagem de Carlos Wagner
Nascida na virada do milênio, a organização cunhou pela primeira vez seu nome de batismo ao reivindicar a autoria de um atentado, em 13 de março de 2008, no município de Horqueta, a cem quilômetros da fronteira com o Brasil. Após incendiar a fazenda de um colono brasileiro, os guerrilheiros assinaram com tinta branca na parede de um galpão: Exército do Povo Paraguaio (EPP).
Desde então, a sigla tem crescido no imaginário do povo de origem guarani muito mais do que suas ações terroristas e o seu real poder de fogo. A ameaça levou o presidente Fernando Lugo a decretar estado de exceção em cinco departamentos por onde perambulam os insurgentes e os transformou em inimigos públicos número 1. Lugo colocou no encalço da organização as forças armadas e a Polícia Nacional, somando um contingente de 3 mil homens equipados com aeronaves, embarcações e transporte terrestre.
Ao restringir a movimentação clandestina e encurralar 15 comandantes, o presidente Lugo pode fazer com que eles migrem dos sequestros (a principal fonte de renda) para o narcotráfico, a exemplo do que ocorreu com sua mentora colombiana. Na década de 90, as Farc se associaram a cartéis da cocaína para sobreviver à escassez de recursos.
Miséria dos produtores é terreno fértil ao narcoterror
As condições geográficas para que isso acontece já existem. O Departamento de San Pedro, na região central do país, ao mesmo tempo em que é o berço do EPP, abriga 1,2 mil famílias de pequenos agricultores que hoje produzem maconha para intermediários dos cartéis baseados na linha divisória com o Brasil.
A miséria fornece um terreno propício para os guerrilheiros atuarem entre os plantadores da erva. Se conseguirem organizá-los e protegê-los, podem formar uma área livre – onde autoridades não entram – dentro do Paraguai, a exemplo do que já existe na Colômbia.
– Imagine um território livre a 120 quilômetros da fronteira seca com o Paraguai? – espanta-se o delegado federal Fabrízio José Romano, de Ponta Porã (MS).
A possibilidade de uma vizinhança narcoterrorista, ao estilo das temidas Farc, fez autoridades brasileiras agirem. Um grupo da Polícia Federal (PF) do Brasil e outro da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai se associaram para investigar se o EPP tentará sobreviver organizando e protegendo plantadores de maconha. Cogitam até da possibilidade de criar um cartel para abastecer seu principal mercado consumidor, as regiões sul e sudeste do Brasil.
– Os seguidores do EPP irão pelo mesmo caminho das Farc – comentou o policial Nelson Lopez, um dos diretores da Senad, que recebe da PF apoio técnico na investigação, por meio de escutas telefônicas e rastreamento de possíveis conexões dos guerrilheiros com comparsas no Brasil.
Uma eventual robustez financeira do grupo, garantida pela aliança com as drogas, patrocinaria o projeto político do EPP de chegar ao poder. O caminho para isso seria o mesmo já trilhado pelas Farc na Colômbia: infiltrar simpatizantes nos partidos políticos e instituições na linha divisória.
Foi nesse território limítrofe, na avenida que separa Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, que, no início do mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou-se com seu colega paraguaio para, entre outros assuntos, tratar da ameaça binacional. Depois de apertar a mão de Lugo, Lula dirigiu-se a empresários e jornalistas:
– Não podemos permitir que bandidos travestidos de libertadores coloquem a democracia em risco.
Expulsão e morte de brasileiros pelo EPP
Os guerrilheiros têm como bandeira a expulsão dos 400 mil colonos brasileiros (chamados de brasiguaios) que vivem no país, responsáveis por 70% da produção de grãos. Reflexo disso está na beira da BR-163, entre as cidades de Naviraí e Itaquiraí (MS), onde um acampamento abriga 400 famílias, ex-proprietárias de terras no Paraguai e expulsas por grupos de sem-terra organizados e armados pelo EPP. Entre elas, a do gaúcho Gervásio da Silva, 31 anos, que plantava milho e soja:
– Cercaram nossa casa e dispararam tiros. Só deram tempo para sairmos. Ficaram com tudo que havíamos construído nos últimos 20 anos.
Em 22 de abril, na Estância Santa Adélia, em Horqueta, no Departamento de Concepción, foram mortos os brasiguaios Osmar da Silva Souza, Jair Ravelo e Francisco Ramirez, além do policial paraguaio Joaquín Aguero.
A situação foi lembrada no encontro entre os dois presidentes. Lugo fez questão de demonstrar ao seu colega brasileiro que vem agindo para tentar prender os culpados. Com prestígio em baixa no país, ele tenta reverter essa situação seguindo a cartilha de seu colega colombiano, Álvaro Uribe, que fez crescer o apoio popular ao desmistificar a figura do guerrilheiro das Farc, tratando-o como criminoso comum. Estipulou um preço (500 milhões de guaranis ou R$ 150 mil) pela cabeça dos principais líderes da guerrilha e mandou espalhar cartazes e outdoors com as fotos deles. Colheu o primeiro fruto no começo de maio, com a captura de Julián de Jesús Ortiz. Fonte: Zero Hora, reportagem de Carlos Wagner
Um comentário:
A Guerrilha se chama Exército do Povo Paraguayo criada pelos membros do Partido Patria Libre, que perderam eleição em 2003, e não há NADA a ver com o Povo Indígena Guarani que milenarmente habita a região. Paremos com confusão!
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