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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Voto consciente - Por Rubem Amorese

Neste começo de ano, quero pensar no voto como “prática espiritual”. Enquanto tal, o voto é uma decisão, um propósito que nasce no coração e se manifesta em forma de oração -- ou de oração sem forma. Ele nem sempre é secreto, mas é sempre íntimo; um propósito que tomamos em relação a nós mesmos. Não valem essas promessas que uma mãe faz para o filho pagar.

Na Bíblia, ele aparece na forma de “promessa”: se o Senhor me der isso, eu faço aquilo. Porém, a melhor prática é a do voto incondicional: “Que darei ao Senhor pelos seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu povo” (Sl 116.12-14).

Encontro três lições nos verbos que Jesus usou para construir a “virada” da narrativa do filho pródigo (Lc 15.17-20).

Primeira: “o voto consciente acontece dentro de um discurso existencial”. “Caindo em si, disse.” A expressão aponta para o enredo, para a situação em que o rapaz estava mergulhado. Ele conseguiu, a duras penas, fazer a leitura da trama, do tecido em que estava envolvido, usando como referência “a casa do pai”. Então, o voto acontece para tirar as coisas dessa situação estagnada, “mal-parada”; acontece como resposta a essa nova consciência. E aqui, a vontade do pai, tão esquecida, negada e questionada, volta a valer; volta a ser o anelo daquela alma. E o voto se transforma em oração ao harmonizar-se com a vontade do Pai.

Segunda: “o voto consciente é um gesto de reconciliação”. “Levantar-me-ei, irei ter com meu pai, e lhe direi...” Reconciliação de quê? Bem, depende do que se estragou, do que se corrompeu. Depende do discurso que lemos, do diagnóstico feito. Depende do que significa a referência “na casa de meu pai” para nós. A maturidade cristã acontece, entretanto, quando aprendemos a dizer: “eu sei qual é a vontade do meu pai e também sei o quanto ela vai me custar. Mas levantar-me-ei e irei ter com ele”. Uma observação: o rapaz não disse “vou começar a pensar sobre isso”, mas “irei”. Chamo a atenção para a armadilha dos votos imensuráveis.

Terceiro: “o voto consciente consuma-se em ação”. “E, levantando-se, foi...” Estamos falando de “prática espiritual”, de oração; da presença de Deus na consciência que faz o autodiagnóstico (os trabalhadores do meu pai), na vontade conhecida (e agora desejada) e também no poder necessário para que o propósito tenha chance de sucesso. O voto consciente é mais que boa intenção; é atitude, ação que rompe círculos viciosos: “e, levantando-se, foi!”. Aleluia! A presença de Deus nessa hora torna possível o improvável; ela impõe a dimensão do milagre.

Como foi o caminho de volta daquele rapaz? Podemos imaginar um misto de incerteza e excitação. Mas a energia para cada passo vinha daquele momento sagrado.

Se, neste começo de ano, o Espírito nos sussurrar ao ouvido: “quantos trabalhadores do meu pai...”, então é tempo de “voto consciente”. O resultado é alentador: “Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou”. Enquanto ainda estamos lendo o nosso duro “discurso existencial”, nosso pai já está saindo ao nosso encontro.

Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de Missionários -- nem leigos, nem santos.
ruben@amorese.com.br

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