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domingo, 9 de agosto de 2009

Gripe pesa nas contas públicas

Influenza A muda rotina dos hospitais e já custa R$ 19 milhões para o governo do Paraná. Regra é não economizar na contenção da doença

Os gastos com a gripe A (H1N1), po­­pularmente conhecida como gripe suína, estão impactando nas contas das prefeituras, dos hospitais e da Secretaria de Estado da Saúde, no Paraná. Além de preocupação com a saúde da população, a doença está gerando demandas que, até o início de ano, os gestores nem pensavam em ter – o mundo só iria descobrir o novo vírus H1N1 na metade de março, com as primeiras vítimas no México. Agora que a gripe A já causou 31 mortes no estado e o registro de 784 casos confirmados, há a necessidade de mais funcionários, equipamentos de proteção para os servidores e internamentos de pacientes nos municípios.

E a conta é alta. O ministro da saúde, José Gomes Temporão, esteve na semana passada em Curitiba para anunciar mais recursos. O Paraná irá receber R$ 6,6 milhões, quantia semelhante ao que o go­­verno estadual já gastou. O estado calcula um gasto de R$ 19 milhões com a gripe A – R$ 6 milhões já foram aplicados e outros R$ 13 milhões em compras estão em andamento. O dinheiro é para a aquisição de equipamentos que podem eventualmente ser transformados em leitos de UTI semi-intensivos, de proteção individual e insumos, como reagentes para a rea­­lização de exames no Labo­­ratório Central do Estado (Lacen). O laboratório, inclusive, contratou profissionais para um terceiro turno (noite) para que a média de 180 amostras processadas por dia passem para 250.

Já as prefeituras ainda estão levantando os gastos e irão ter os números no fechamento do mês e dizem fazer o que podem. O presidente da Associação dos Muni­­cípios do Paraná (AMP), Moacyr Fadel, confirma que, mesmo com o aumento de gastos, o atendimento fica complicado. “É preciso chegar cedo às unidades de saúde.” Ele diz que a opção das prefeituras do interior foi tirar profissionais do Programa de Saúde da Família e colocá-los nos ambulatórios.

Em Ponta Grossa, por exemplo, os 200 médicos do município estão fazendo regime de escala para atender os pacientes com suspeita de gripe A na ala específica aberta no Pronto-Socorro Municipal. Com isso, os postos de saúde perdem um médico em horário de expediente.

Mudanças

Para atender infectados com o H1N1, hospitais e unidades de saúde precisam modificar toda sua rotina e estrutura, num efeito em cadeia. Primeiro, as instituições devem reduzir o número de pessoas circulando nesses espaços e montar um local exclusivo para os casos suspeitos. Com o atendimento, surge maior precaução com a segurança dos funcionários, o que im­­plica na compra de equipamentos de proteção individual, como máscaras, aventais e álcool gel. Caso um funcionário apresente sintomas de gripe, ele tem de ficar em casa por um período mínimo de sete dias. Para cobrir as faltas, são necessárias horas-extras e contratação de equipe, o que causaria mais filas.

Curitiba vem registrando picos no atendimento, com 757 casos suspeitos na última quarta-feira e 712 na quinta-feira, de acordo com o diretor do Sistema de Urgência de Curitiba, Matheos Chomatas. A média no inverno normalmente girava em torno de 250 atendimentos. Devido ao aumento, há filas e a espera pode chegar a horas.

A Secretaria Municipal de Saúde, porém, diz que a ordem é gastar o que for necessário para que a população seja atendida. Entram nos gastos do poder público o reforço de equipes de médicos e enfermeiros, o que pode significar horas-extras, compra de equipamentos de proteção individual e outros aparelhos, como respiradores – cotados por cerca de R$ 40 mil –, e oxímetros. O consumo mensal de máscaras cirúrgicas passou de 35 mil unidades por mês para 180 mil a cada 15 dias. O nú­­mero de aventais passou de 200 unidades para 8,7 mil. “Estamos ainda nos planejando com gastos e há compras emergenciais. Temos uma determinação clara de não poupar esforços para que os insumos sejam supridos. E estamos con­­seguindo atender nossas ne­­cessidades”, diz a superintendente executiva Beatriz Nadas.

Na região metropolitana, São José dos Pinhais e Campo Largo re­­servaram espaços exclusivos para o atendimento de pacientes com a gripe A. A prefeitura de Campo Largo estima já ter gasto R$ 150 mil com o H1N1. Desses, R$ 120 mil foram para a contratação de pessoal. O secretário municipal de saúde, Gléverson Luiz Caron, diz que es­­tão se preparando para o pior. Há cotações para a compra de mais 20 mil máscaras, além de álcool gel e respiradores. “É melhor pecar pelo excesso do que pela omissão. Como ainda é uma doença desconhecida, nos precavemos”, diz.

Procura

Segundo o presidente do Con­­selho Na­­cional dos Secretários Mu­­ni­­ci­­pais de Saúde, Antônio Carlos Nardi, a força de trabalho nos mu­­ni­­cípios teve de ser praticamente do­­brada para atender o número grande de pacientes preocupados com a nova gripe. “O alarme com relação à gripe A está trazendo uma demanda que 80% está sendo des­­cartada. Estão trazendo pacientes com gripe e resfriado, sem nenhum sintoma característico.”

O presidente do Conselho Na­cional de Saúde (CNS), Francisco Batista Júnior, disse à Agência Brasil que a rede hospitalar do país pode não suportar o aumento da demanda causado por pessoas que buscam atendimento médico com sintomas de gripe comum. “Neste momento, milhões de brasileiros estão acometidos da gripe comum, isso faz parte da nossa rotina. Não é correto que esses milhões de pessoas recorram aos hospitais achando que é a gripe causada pelo vírus Influenza H1N1 e que, consequentemente, necessitam de atendimento hospitalar. Não há condições de a nossa rede dar conta dessa demanda.” Fonte: Gazeta do Povo. Colaborou Maria Gizele da Silva, da sucursal de Ponta Grossa

Um comentário:

Anônimo disse...

Quase não se tem onde gastar...