Roberto Carlos é abraçado pelo presidente da escola Beija-Flor, Anísio Abraão David, bicheiro
Assim como os grêmios recreativos escolas de samba evoluem pela Avenida, os criminosos foram buscando a aceitação da sociedade por meio de seus próprios símbolos. O carnaval é um desses. Como já disse uma vez aqui pouquíssimos são aqueles que num belo dia acordam e decidem do nada praticar um crime. Esse caráter vai sendo moldado em pequenas atitudes, no dia-a-dia. Mas o que é crime em algumas sociedades não é visto da mesma forma para outras. O que foi crime no passado hoje já não é mais. E assim caminha a humanidade.
Quem seria capaz de imaginar ver na primeira página de um jornal o rei Roberto Carlos, um dos maiores fenômenos da Música Popular Brasileira, sendo abraçado por um banqueiro de jogo de bicho? Só no carnaval. O carnaval das escolas de samba do Rio - que virou um espetáculo globalizado e que sustenta a indústria do turismo - é arte...e crime. Das 12 escolas de samba do Grupo Especial, seis são de bicheiros, uma do tráfico de drogas e outra da máfia do óleo, um grupo criminoso que há anos rouba combustível de embarcações ancorados na Baía de Guanabara. Entra para o Grupo Especial no ano que vem mais uma, de Jacarepaguá, uma região da cidade dominada pelas milícias.
As relações entre contravenção e carnaval teriam se fortalecido já na década de 30 por meio de um bicheiro famoso na época, Natalino José do Nascimento, o Natal da Portela, que era uma espécie de Rei de Madureira. Amigo de Paulo da Portela, um dos primeiros a dar dignidade aos sambistas, Natal decidiu, após a morte de Paulo, apoiar a escola Vai como Pode, origem da Portela. Bem-sucedido, Natal foi convidado pelo governador Negrão de Lima a apresentar a escola até para majestades, em 1959. Começou então a ser imitado por outros bicheiros que viam na escola de samba uma das formas de aceitação social. Muitos bicheiros viam também no carnaval uma boa chance para lavar o dinheiro do jogo.
O bicheiro que fez isso com mais dedicação foi Castor de Andrade, que conquistou o primeiro campeonato para a Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1979. Castor colocou muito dinheiro na organização dos desfiles sobretudo depois que passou a comandar a cúpula do jogo do bicho no Estado do Rio. Castor chegou ao poder após a maior e mais longa guerra da contravenção, no início da década de 80, na qual foram mortos bicheiros e policiais ligados à contravenção, como Mariel Maryscot. Em 1984, ano de inauguração do Sambódromo, com a participação de dez escolas de samba ligadas a bicheiros, Castor fundou a Liga das Escolas (Liesa), que se especializou na organização do carnaval. O prefeito Eduardo Paes chegou a prometer na eleição que faria licitação para a organização do desfile, mas o assunto foi logo esquecido e não há quem tente lembrá-lo disso.
Já na década de 30 Natal da Portela era temido pelos bandidos daquela região da cidade e respeitado pela polícia, o que leva a crer que as relações entre polícia e contravenção são bem antigas. Em meados da década de 30, segundo a Wikipedia, durante o governo Vargas, o delegado titular da extinta Delegacia de Costumes e Diversões, Dulcídio Gonçalves, decidiu acabar com nomes estranhos das escolas de samba, e passou a obrigá-las a tirar alvará para poderem desfilar. Por isso, a Vai como Pode, de Natal, teve que mudar para o atual nome, GRES Portela. Quando Castor construiu seu império sobre o legado do pai, na década de 70 não havia um policial em Bangu que fosse capaz de representar alguma ameaça ao contraventor. Seu braço direito era inclusive um policial civil conhecido pelo alcunha de Tião Tripa. Castor cresceu sob o silêncio de autoridades, políticos e até magistrados. Só em 1994, com a queda de sua fortaleza, quando veio à tona a longa lista de colaboradores, Castor perguntou, espantado, "que polícia é essa?", que invadira seu QG. Era o Bope, a tropa de elite.
Mas no século XXI já circulam fortes rumores de que há agentes do Bope que dão segurança a chefes da máfia dos caça-níqueis, que nasceu do jogo de bicho. Fonte: Blog Repórter do Crime, reportagem de Jorge Antonio Barros e Foto: Marco Antônio Teixeira/ O GLOBO
Assim como os grêmios recreativos escolas de samba evoluem pela Avenida, os criminosos foram buscando a aceitação da sociedade por meio de seus próprios símbolos. O carnaval é um desses. Como já disse uma vez aqui pouquíssimos são aqueles que num belo dia acordam e decidem do nada praticar um crime. Esse caráter vai sendo moldado em pequenas atitudes, no dia-a-dia. Mas o que é crime em algumas sociedades não é visto da mesma forma para outras. O que foi crime no passado hoje já não é mais. E assim caminha a humanidade.
Quem seria capaz de imaginar ver na primeira página de um jornal o rei Roberto Carlos, um dos maiores fenômenos da Música Popular Brasileira, sendo abraçado por um banqueiro de jogo de bicho? Só no carnaval. O carnaval das escolas de samba do Rio - que virou um espetáculo globalizado e que sustenta a indústria do turismo - é arte...e crime. Das 12 escolas de samba do Grupo Especial, seis são de bicheiros, uma do tráfico de drogas e outra da máfia do óleo, um grupo criminoso que há anos rouba combustível de embarcações ancorados na Baía de Guanabara. Entra para o Grupo Especial no ano que vem mais uma, de Jacarepaguá, uma região da cidade dominada pelas milícias.
As relações entre contravenção e carnaval teriam se fortalecido já na década de 30 por meio de um bicheiro famoso na época, Natalino José do Nascimento, o Natal da Portela, que era uma espécie de Rei de Madureira. Amigo de Paulo da Portela, um dos primeiros a dar dignidade aos sambistas, Natal decidiu, após a morte de Paulo, apoiar a escola Vai como Pode, origem da Portela. Bem-sucedido, Natal foi convidado pelo governador Negrão de Lima a apresentar a escola até para majestades, em 1959. Começou então a ser imitado por outros bicheiros que viam na escola de samba uma das formas de aceitação social. Muitos bicheiros viam também no carnaval uma boa chance para lavar o dinheiro do jogo.
O bicheiro que fez isso com mais dedicação foi Castor de Andrade, que conquistou o primeiro campeonato para a Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1979. Castor colocou muito dinheiro na organização dos desfiles sobretudo depois que passou a comandar a cúpula do jogo do bicho no Estado do Rio. Castor chegou ao poder após a maior e mais longa guerra da contravenção, no início da década de 80, na qual foram mortos bicheiros e policiais ligados à contravenção, como Mariel Maryscot. Em 1984, ano de inauguração do Sambódromo, com a participação de dez escolas de samba ligadas a bicheiros, Castor fundou a Liga das Escolas (Liesa), que se especializou na organização do carnaval. O prefeito Eduardo Paes chegou a prometer na eleição que faria licitação para a organização do desfile, mas o assunto foi logo esquecido e não há quem tente lembrá-lo disso.
Já na década de 30 Natal da Portela era temido pelos bandidos daquela região da cidade e respeitado pela polícia, o que leva a crer que as relações entre polícia e contravenção são bem antigas. Em meados da década de 30, segundo a Wikipedia, durante o governo Vargas, o delegado titular da extinta Delegacia de Costumes e Diversões, Dulcídio Gonçalves, decidiu acabar com nomes estranhos das escolas de samba, e passou a obrigá-las a tirar alvará para poderem desfilar. Por isso, a Vai como Pode, de Natal, teve que mudar para o atual nome, GRES Portela. Quando Castor construiu seu império sobre o legado do pai, na década de 70 não havia um policial em Bangu que fosse capaz de representar alguma ameaça ao contraventor. Seu braço direito era inclusive um policial civil conhecido pelo alcunha de Tião Tripa. Castor cresceu sob o silêncio de autoridades, políticos e até magistrados. Só em 1994, com a queda de sua fortaleza, quando veio à tona a longa lista de colaboradores, Castor perguntou, espantado, "que polícia é essa?", que invadira seu QG. Era o Bope, a tropa de elite.
Mas no século XXI já circulam fortes rumores de que há agentes do Bope que dão segurança a chefes da máfia dos caça-níqueis, que nasceu do jogo de bicho. Fonte: Blog Repórter do Crime, reportagem de Jorge Antonio Barros e Foto: Marco Antônio Teixeira/ O GLOBO
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