Três ex-diretores da autarquia que respondia pelo serviço de água e esgoto condenam sua absorção pela Sanepar, cujo contrato, de 30 anos, está para vencer
A polêmica em torno do assunto Sanepar está apenas começando. E não apenas porque na semana passada o diretor-comercial da Sanepar, Natálio Stica, declarou que a empresa vai tentar se valer do Termo Aditivo ao Contrato de Concessão 241/80, de 27 de agosto de 1980, assinado secretamente pelo ex-prefeito Said Ferreira e pelo então presidente da empresa, Carlos Afonso Teixeira de Freitas, em 26 de junho de 1996.
A prorrogação não teve o aval da Câmara. A polêmica ganha corpo também porque a questão deixou feridas abertas quando o sistema de águas e esgoto de Maringá foi entregue para a empresa estatal.
“Nós esperamos 30 anos, pagando o preço que eles quiseram, sem reclamar. Engolimos tudo de cabeça baixa. Não vamos esperar mais 30 anos”, desabafou o ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Maringá (Codemar), Marco Antonio Lourenço Correia.
Ele e outros ex-presidentes da empresa, então responsável pelos serviços de água e esgoto, como Walber Souza Guimarães e Waldemar Alegretti, lembram-se das dificuldades enfrentadas para criar e estruturar a Codemar, repassada com todo seu patrimônio à Sanepar em 1980, e acham que só uma consulta popular pode por fim ao debate.
Marco Antonio Lourenço Correia, 72 anos, hoje vendedor de seguros - foi o segundo presidente da Codemar (o primeiro foi Hermelindo Bolfer) e candidato a prefeito pela Arena (disputou e perdeu a eleição contra Silvio Barros, pai do atual prefeito) - é um dos mais inconformados pela forma como se deu o processo de concessão do serviço de água e esgoto de Maringá.
“Minha preocupação foi resolver o problema da água de Maringá”, disse. “Na década de 60, a mortalidade infantil era grande e eu sabia que só o saneamento básico podia resolver esse problema.
Uma das primeiras coisas que fiz foi mandar fechar poços – isso me prejudicou depois como candidato. Mas em Maringá o sistema de água e esgoto era um poço e uma fossa. E não é preciso ser gênio para saber que essas águas se encontram lá embaixo. Então, tive que fazer o que fiz, e não me arrependo. Tirei a Codemar do discurso”.
Waldemar Alegretti, outro ex-diretor da Codemar, defende João Paulino, dizendo que o ex-prefeito teria sido forçado a entregar a Codemar para a empresa estatal.
“O João Paulino não teve saída. Não tinha escolha. A Codemar foi a primeira empresa municipal de água e esgoto a ser fundada no Brasil. E a Sanepar, criada pouco tempo antes, precisava da estrutura da Codemar para se desenvolver. O governador obrigou o João Paulino a fazer
o que fez. O contrato só foi referendado”.
“Hoje é difícil dizer se deve ficar com a Sanepar ou não. Eu estou aposentado e não tenho os números da empresa para analisar. O que sei é que, se Maringá conseguisse retomar esse serviço, seria muito bom para a cidade. O sistema de água e esgoto de Maringá sempre sustentou toda a região. Então, lucrativo é”...
‘Aditivo não vale nada’
O ex-deputado federal Walber Souza Guimarães, que foi presidente da Codemar e vice-prefeito de Maringá, defende que o erro do João Paulino não seja repetido. O contrato com a Sanepar expira no próximo ano.
“Tem que discutir a concessão. Esse aditivo assinado pelo Said não vale nada. Foi uma jogada do Said, porque o Said de bobo não tem nada. Ali tem três irregularidades: não foi aprovado pela Câmara, não foi publicado e nem teve licitação. Como se faz um aditivo sem licitar? Foi um ato secreto, como esses que estamos vendo no Senado...”
“Para a Sanepar, não interessava se era legal ou não” - alfinetou Guimarães. Eles precisavam ter os contratos para garantir os empréstimos. Acho que o Said espertamente conseguiu uns benefícios para a cidade sem ter comprometido nada.
Mantenho minha opinião: tem que aproveitar o momento para discutir o contrato, rever as taxas, aumentar os investimentos em Maringá. Bem negociada, a cidade pode ganhar muito com essa renovação”, disse Guimarães.
Fonte: O Diário do Norte do Paraná Online
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sábado, 4 de julho de 2009
Entrega da Codemar deixou feridas abertas
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