Vivemos assombrados por muitos medos: do futuro, do desemprego, da violência, da traição... Isto porque o príncipe do mal usou a desobediência do ser humano para construir uma sociedade fundamentada na busca pelo prazer inconseqüente e pelo poder que leva a usar o outro para satisfazer nossos desejos insaciáveis. Queremos muito, queremos sempre mais, e nossas ambições transformam as relações humanas em luta onde a lei do mais forte prevalece.
Com isto a desigualdade, a exclusão, a manipulação, a exploração, geram um ambiente cada vez mais injusto e inóspito para a grande maioria. Enquanto um grupinho desfruta de grande parte dos recursos do planeta, esbanjando luxo, povos inteiros são dizimados por fome, sede, doenças e guerras. E nesse mundo, o medo se torna constante.
Pessoas movidas pelo medo tendem a tornarem-se egoístas, desconfiadas, agressivas, desenvolver mecanismos de defesa ou de fuga, armas e carapaças para se proteger dos perigos. Algumas ficam irritáveis e reagem com exagero a qualquer ameaça. Outras se especializam em fugir de seus próprios sentimentos e dos outros através do ativismo ou de outras compensações que logo se transformam em compulsões por comida, remédio, consumo... É preciso uma dose cada vez maior para anestesiar estes medos e garantir uma sensação de bem-estar.
No Antigo Testamento, este quadro já existia e a esperança estava fundamentada nas profecias anunciando a vinda do Messias que iria instaurar um reino de justiça e paz. Durante a sua vida, Jesus fez questão de afirmar que seu reino não é limitado a este mundo, mas começa no coração daqueles que o reconhecem como Senhor. Jesus vence de forma definitiva o mal ao perdoar seus agressores. A escolha de amar interrompe a escalada do mal. Cristo prova o seu amor por nós na cruz e torna-se nossa referência. Quando percebemos que nada pode nos separar deste amor, podemos assumir a nossa vocação de continuar a obra de Cristo, responder ao mal com o bem e promover os valores do reino de justiça, solidariedade e paz.
É interessante perceber que, ao encontrar os discípulos trancados por medo dos judeus, Jesus os envia para fora do seu esconderijo, mas fortalecidos pela certeza da ressurreição e cheios do Espírito Santo. Este mesmo Espírito nos capacita a ser o Corpo de Cristo, a manifestar o amor de Cristo através das nossas vidas para servir “de esconderijo contra o vento, de refúgio contra a tempestade, de torrentes de águas em lugares secos, e de sombra de grande rocha em terra sedenta” (Is 32.2). Perseverar com esperança significa lidar com os nossos medos da perda, da rejeição, do desconhecido. Significa acolhê-los e responder apontando os sinais de esperança que percebemos em nós e ao nosso redor. Toda vez que alguém estende a mão ao necessitado, se compadece do enlutado, defende o direito do oprimido, é o próprio Cristo manifesto naquele que acolhe e naquele que é acolhido.
Henri Nouwen enfatiza em seu livro O Caminho da Esperança (São Paulo: Paulinas, 1998): “As pessoas que esperam, receberam uma promessa que lhes permite esperar. Receberam algo que está ocorrendo com elas, como uma semente que começou a crescer. Só podemos realmente esperar se aquilo por que estamos esperando já começou para nós. Por isso, esperar nunca é um movimento do nada para alguma coisa, mas é sempre um movimento de algo para algo mais. Zacarias, Isabel, Maria, Simeão e Ana viviam com uma promessa que os sustentava, os alimentava e os capacitava a ficar onde estavam. E, dessa forma, a promessa podia realizar-se dentro deles e através deles”.
Ser um carvalho de justiça em um mundo à beira do colapso é lembrar que Cristo ressuscitou, que o mal não prevalecerá, que Deus está presente em nós e através de nós para nos transformar e construir relações permeadas pelo amor. Ao escolher amar, reencontramos a nossa essência e passamos do domínio do medo para o reino do amor.
Isabelle Ludovico da Silva é psicóloga com especialização em terapia familiar sistêmica.
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quinta-feira, 23 de julho de 2009
Esperança inspirada em Jesus - Por Isabelle Ludovico da Silva
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