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sábado, 10 de outubro de 2009

Nobel pode tirar foco de Obama da política interna, diz sociólogo americano

Ronald Krebs é autor de pesquisa sobre história do Nobel da Paz.
Obama vai ter que escolher entre interesses dos EUA e do mundo, diz.
Foto: AP O ganhador do Prêmio nobel da Paz 2009, Barack Obama (Foto: AP)

Apontado como uma grande vitória internacional do presidente dos Estados Unidos, o Prêmio Nobel da Paz conquistado por Barack Obama na sexta-feira (9) pode gerar um problema de política interna para ele nos próximos meses. Segundo a avaliação do sociólogo Ronald Krebs, autor de uma pesquisa sobre a história do Nobel da Paz a ser publicada no fim deste ano, Obama vai ser pressionado a deixar claro que interesses são mais importantes para seu governo, se os dos EUA ou os da comunidade internacional

“O prêmio vai comunicar aos americanos que talvez Obama queira defender mais os interesses da comunidade internacional de que os interesses dos Estados Unidos. Vai se abrir uma linha de ataque sobre esta questão, criando muita pressão sobre seu governo. Ele já mostrou que está preocupado com isso e tem defendido algumas ações militares para mostrar que os EUA vêm em primeiro lugar”, disse Krebs, em entrevista ao G1.

Segundo Krebs, é natural esperar que Obama prove que, para ele, os interesses norte-americanos estão acima dos internacionais, e não deve demorar para ele encontrar uma situação em que possa demonstrar isso de forma clara, por mais que possa surpreender a comunidade internacional. “Ele vai deixar o mundo desapontado, mas é uma situação que foi criada pelo comitê do prêmio Nobel.”

O anti-Bush

Professor na Universidade de Minnesota, Krebs é autor do livro “Fighting for rights: military service and the politics of citizenship” (Lutando por direitos: serviço militar e a política de cidadania) e deve publicar até o fim do ano “A Perilous Prize? The False Promise of the Nobel Peace Prize" (Um prêmio perigoso? A promessa falsa de um Prêmio Nobel da Paz), em que analisa o histórico da premiação e dos escolhidos pelo comitê. Segundo ele, a decisão de apontar Obama como o Nobel da Paz deste ano foi tomada por questões políticas, representando uma ruptura com a Era Bush nas relações entre os Estados Unidos e o resto do mundo.

“A vitória de Obama repete prêmios anteriores do Nobel da Paz, seguindo critérios políticos. É um prêmio que busca mandar uma mensagem clara em defesa de uma causa particular da paz. Ele marca uma linha que rebate as decisões do governo [George W.] Bush. A política externa do segundo mandato do governo Bush criou uma divisão entre os Estados Unidos e o resto do mundo. O Prêmio Nobel visa deixar de lado esta ruptura e mostrar que os dois podem estar juntos novamente.”

Para ele, Obama não teria ganhado nada se tivesse rejeitado o prêmio, como alguns analistas defenderam na mídia dos Estados Unidos. “O discurso de Obama após a premiação teve o tom perfeito. Ele foi modesto e reforçou a idéia de que o Nobel premia uma visão de uma comunidade internacional pacífica. Ele acertou ao defender que o trabalho para que isso seja alcançado seja conjunto.”

Aspiração e conquistas

O próprio laureado pelo Nobel da paz deste ano se disse surpreso, em sua primeira declaração após ter sido escolhido. Obama admitiu não ter um histórico que prove sua luta pela paz, mas disse saber que a premiação tinha ocorrido com expectativas no futuro.

Segundo Krebs, esta é exatamente a mentalidade do comitê do Nobel da Paz. “Nos últimos 30 anos, o comitê usa o prêmio para premiar aspiração, levando adiante um objetivo político específico voltado à paz. Dizer que o comitê vai perder credibilidade é ir contra a história do prêmio. O Prêmio Nobel da Paz há muito tempo prioriza aspiração a conquistas”, disse.

O prêmio Nobel da Paz, explicou, é o único dos prêmios do comitê que defende acima de tudo intenção. “Sempre que se fala nos outros prêmios, como física, medicina, todos os outros, defende-se conquistas e descobertas, o que cria uma expectativa de que o da paz também seja alguém que fez algo de relevante. Mas não o da Paz, que premia a aspiração acima de tudo”, disse, defendendo a escolha de Obama como correta pelos parâmetros do comitê. Fonte: G1, reportagem Daniel Buarque

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