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quarta-feira, 20 de maio de 2009

EUA misturam pressão e diplomacia na reação a míssil iraniano


Enquanto reconhecem o avanço iraniano com o lançamento de um míssil de longo alcance com capacidade para atingir Israel, as autoridades americanas preparam iniciativas para reagir a uma possível corrida armamentista no Oriente Médio e para tentar salvar a abordagem diplomática defendida por Obama para lidar com o Irã. Nas palavras do porta-voz Robert Gibbs, o teste deixa o regime de Teerã "menos, e não mais seguro".

Falando sob condição de anonimato, um funcionário do governo americano deu detalhes técnicos sobre o míssil lançado nesta quarta-feira pelo Irã. Segundo ele, o foguete tem o maior alcance entre todos já lançados pelo regime de Teerã, levantando preocupações sobre a sofisticação do programa de mísseis iraniano.

Ele disse que afirmou Teerã já havia demonstrado capacidade de lançar mísseis propelidos por combustíveis sólidos de curto alcance. Esse tipo de míssil preocupa os americanos, pois pode ser abastecido com antecedência e movido ou escondido em silos, disse o funcionário. Foguetes propelidos por combustíveis líquidos têm de ser abastecido e disparados rapidamente, o que faz com que os preparativos para um ataque sejam mais fáceis de ser monitorados, permitindo uma ação preventiva, se necessário.

Tanto funcionários do governo quanto especialistas independentes avaliam que o míssil não parece ser de um novo modelo.

"Eu não estou tão impressionado", afirmou Charles Vick, analista técnico sênior da organização Global Security, que examinou fotos e vídeos do lançamento divulgados pelo Irã. "É apenas mais um teste que confirma eles têm o sistema que [já] estava funcionando no verão passado."

Mas é o alcance do míssil que mobiliza a reação americana. O secretário da Defesa Robert Gates, que confirmou oficialmente o teste, disse que o míssil testado pode chegar a uma distância entre 2.000 e 2.500 km, o que colocaria, além de Israel, partes da Europa Oriental e bases americanas no Oriente Médio ao alcance de possíveis ataques.

"As informações que li indicam foi um voo de teste bem sucedido" disse Gates a uma comissão da Câmara de Representantes (Deputados), cerca de oito horas depois de o lançamento ter sido anunciado pelo presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.

"Devido a alguns problemas que eles tiveram [anteriormente] com os motores achamos que, pelo menos nesta fase de testes, [o alcance] provavelmente está mais perto da faixa inferior do referido intervalo [2.000 km]", disse Gates. "Eu ainda não tive informação sobre se ele atingiu o alvo a se destinava."

Em outra audiência no Congresso, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que advertiu sobre a possibilidade de uma corrida armamentista no Oriente Médio caso o Irã consiga armas nucleares, disse que não estava convencida da utilidade de impor mais sanções bilaterais aos iranianos caso fracasse o esforço diplomático de Washington para conter as ambições nucleares do país.

Hillary disse que, se a tentativa americana de aproximar-se diplomaticamente do Irã falhar, sanções multilaterais poderiam ser mais eficazes.

Acima imagem da TV mostra o míssil iraniano Sejil 2 cujo lançamento foi anunciado nesta quarta-feira pelo presidente

EUA e Irã mantêm relações tensas desde a tomada de poder pelos religiosos xiitas iranianos, em 1979, com a derrubada do xá Mohamad Reza Pahlevi, que tinha apoio americano. Os dois países cortaram relações diplomáticas no mesmo ano, quando estudantes invadiram a Embaixada americana em Teerã e deram início a uma ocupação, com reféns, que durou 444 dias.

Mas Obama tem tentado colocar em prática o gesto de "estender a mão" aos iranianos, como definiu sua estratégia de negociação, embora ainda sem uma significativa "abertura de punho" dos iranianos --a pré-condição que impôs para as conversas entre os países. No início desta semana, Obama disse que os iranianos têm até o fim deste ano para mostrar se pretendem responder à disposição americana para o diálogo.

A secretária de Estado participou de duas audiências do Senado para explicar o alcance do orçamento do Departamento de Estado, de cerca de US$ 50 bilhões para o ano fiscal 2010. Porém, foi o assunto Irã que dominou as discussões entre Hillary e os senadores.

Na audiência perante uma subcomissão do Senado, Hillary disse que caso se permita que o Irã desenvolva uma real capacidade de fabricar armas nucleares, seria desencadeada uma "ameaça extraordinária".

Porém, a chefe da diplomacia americana esclareceu que o governo dos EUA continuará os esforços diplomáticos para impedir que o Irã prossiga com os planos a respeito.

Para Hillary, diante das eleições do próximo dia 12 de junho no Irã, provavelmente as pressões dos EUA e da comunidade internacional serão ignoradas.

A resposta dos EUA foi previsível: o Irã tem o desafio de escolher entre continuar desestabilizando o Oriente Médio ou iniciar diálogo com Washington.

Para os EUA, o Irã representa um grande obstáculo para o processo de paz no Oriente Médio e o governo Obama enfrenta pressões de Israel para evitar que esse país continue o programa nuclear.

O governo de Teerã argumenta o programa tem fins pacíficos, mas Ahmadinejad insiste em um discurso dúbio que pode ser interpretado como uma defesa da eliminação de Israel. Isso, aos olhos dos EUA, atrapalha qualquer esforço de pacificação no Oriente Médio.

Alguns observadores consideram que o lançamento do míssil balístico, realizado após o encontro entre Obama e o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu na segunda-feira passada, é mais do que tudo para consumo interno, no momento em que o presidente iraniano disputa o poder com forças moderadas pró-ocidentais.

Dois dos três candidatos aprovados para as eleições do próximo dia 12 de junho no Irã são reformistas que se inclinam por melhorar as relações com o Ocidente.

O governo Barack Obama expressou sua vontade de dialogar com Teerã, mas também deixou claro que o regime iraniano tem que abandonar as ambições nucleares e arriscar um maior isolamento diplomático e possíveis sanções.

Há dois dias, Obama deixou entrever que os EUA promoverão maiores sanções internacionais contra o governo de Teerã caso, até o fim do ano, continue se opondo ao início de um diálogo sobre o programa nuclear.

Hillary também reiterou hoje o compromisso de Obama com uma solução que permita a coexistência pacífica de um Estado palestino com o israelense.

Obama deve viajar ao Oriente Médio no início de junho e fará, no Cairo, seu primeiro discurso dirigido ao mundo muçulmano, enquanto seu governo continua administrando um acordo de paz para resolver a prolongado conflito entre israelenses e palestinos.

Sobre a solicitação orçamentária do Departamento de Estado para o ano fiscal que começa em outubro próximo, Hillary disse que reflete um aumento de 7% em relação ao ano fiscal em curso, mas é, segundo ela, um investimento necessário apesar da recessão econômica.

"É um indício do papel-chave que o Departamento de Estado e a agência americana para o desenvolvimento internacional [Usaid] tem para ajudar a promover os interesses de nossa nação", justificou.

Na audiência, Hillary destacou o desejo dos EUA de "revitalizar as alianças históricas" com Europa e América Latina, África e Ásia, fazendo insistência nas relações bilaterais com países líderes emergentes, como o Brasil.

Fonte: Folha On Line com Associated Press, Efe e Reuters

Um comentário:

Anônimo disse...

O bicho pode pegar...