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segunda-feira, 25 de maio de 2009

INDIGNAÇÃO DE UM COLEGA - Carta de Apoio

10 de novembro de 2008
Vi, ontem, o que restou de um homem. Quero dizer, vi destroços, algo insólito, fragilizado, emoção à flor da pele, nada a ver com figura imponente do zeloso e polêmico investigante, PROTÓGENES QUEIROZ.

Nada a ver com a foto editada, fotoshopizada da revista Carta Capital. Constrangedor. Por instantes me permiti distanciar dos sentimentos que tive dos eventuais vexames que possa ele ter causado com seu trabalho. Por instantes, também, tentei me abstrair do que acho do todo: do Brasil hipócrita,
formado por grupelhos, por mafiocratas e outras excrescências contemporâneas. Detive-me no homem acabado ou aparentemente acabado, tratado como romântico e quixotesco por uns ou como pilantra e aventureiro por outros. Um homem que, de tão ingênuo, mesmo sendo Delegado Federal e supostamente movido pelo sentimento de justiça, crente de estar cumprindo o seu dever, ficou surpreso e arrasado ao ter sua intimidade devassada. Sua casa, a casa de seu filho (seqüestrado uma vez), nada sobrou.

QUEIROZ prendeu Daniel Dantas. Apenas isso? Não. Há algo de desproporcional nisso tudo, mesmo que por força das circunstâncias e longe de mim fazer críticas a colegas, até por que não hesitaria em fazer o mesmo se tivesse que fazê-lo. Ônus … idiossincrasias…

De qualquer forma, há algo de podre no Reio da Dinamarca, algo sinalizando que o buraco (ou seria rombo?) é mais embaixo.

O pior é pensar que certas coisas só acontecem com os outros, assim, como cagada de passarinho… E não sei por que me ocorre a palavra CATEGORIA, uma palavra que interiorizei e que por instante me fez esquecer os processos individuais, os sonhos de uns, ambições de outros…

Vi um homem só e arrasado, onde antes havia um delegado federal “in his proud and his power”

De qualquer forma, me reconfortei ao ver o seu filho de sete anos, indiferente às certezas do mundo jurídico, das inerências policiais, pular em seu pescoço e gritar: PA! QUE SAUDADE!

Baixa o pano.

Há mais mistério entre o Céu e a Terra do que possa imaginar nossa vã filosofia.

… e sentença se anuncia bruta, mais que depressa a mão cega executa, pois que senão o coração perdoa… (Chico Buarque e Ruy Guerra)

ARMANDO RODRIGUES COELHO NETO

Delegado de Polícia Federal

Presidente da Associação Cultural Art. 5º Delegados de Polícia Federal pela Democracia

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