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domingo, 24 de maio de 2009

Quércia fecha com Serra e põe Requião no pacote

De Sérgio Pardellas na ISTO É

Até os petistas mais cautelosos davam como favas contadas o apoio do velho aliado de Lula no PMDB, o governador do Paraná, Roberto Requião, à candidata do presidente à sucessão de 2010. Mas um encontro no dia 6 de abril, em São Paulo, entre caciques do PMDB paulista e paranaense, selou a reviravolta.
Hoje, Requião está mais próximo de fechar uma aliança com um dos pré-candidatos tucanos ao governo do Paraná, o senador Álvaro Dias ou o prefeito curitibano Beto Richa.
E, com isso, abrir um palanque forte para José Serra ou Aécio Neves no ano que vem.
“Agora existe a possibilidade de um acordo com o PSDB, já que o PT está com Osmar Dias, nosso adversário aqui”, admitiu Waldyr Pugliese, presidente do diretório paranaense do PMDB. Nessa negociação, a peça-chave foi o ex-governador Orestes Quércia. “Ele foi fundamental na aproximação do Requião com o Serra”, atesta Pugliese.


O caso do Paraná não é isolado. Presidente do PMDB paulista, Quércia tornou-se um dos principais articuladores da campanha de Serra à Presidência. Ele joga combinado com Serra desde o apoio do PMDB à reeleição de Gilberto Kassab (DEM). A aliança em 2010 é fundamental para Quércia se eleger senador. Uma participação mais decisiva de Quércia nas costuras regionais, sobretudo com o PMDB , foi acertada num jantar na casa de Kassab no início de abril.

Estiveram no encontro, além de Quércia, o chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, o ex-senador Jorge Bornhausen e os presidentes do PSDB, Sérgio Guerra, e do PPS, Robertopercorrido o País na tentativa de desatar os nós que impediam PMDB e PSDB de se coligarem nos Estados. Obteve resultados. Além do Paraná, o ex-governador deixou bem encaminhados acordos em Santa Catarina, Minas Gerais, no Rio Grande do Sul, na Bahia e no Rio Grande do Norte. Em pelo menos outros dez Estados, a aliança já é dada como certa. “Hoje o Quércia é o nome mais autorizado para falar sobre a aliança tucana com o PMDB “, reconhece Guerra.

No dia 22 de abril, ele esteve em Brasília e pediu a interlocutores de Lula, como José Sarney, Renan Calheiros e Michel Temer, que não fechassem uma aliança formal com o PT em 2010. “Me dêem um voto de confiança. Se formalizarmos com o PT, podemos ter prejuízo nos Estados”, argumentou. Para convencer o ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, a se unir ao PSDB, Quércia não foi menos incisivo. “É um equívoco político ficar a reboque de Jaques Wagner”, disse. Geddel ainda não bateu o martelo, mas a avaliação é de que, se Paulo Souto (DEM) não for candidato, o PSDB fechará com o PMDB.

No Rio Grande do Sul, está quase tudo certo para que José Fogaça (PMDB), prefeito de Porto Alegre, seja o candidato da chapa PMDBPSDB. Pelo acordo, a governadora tucana Yeda Crusius, desgastada com denúncias, abrirá mão da reeleição. No Rio Grande do Norte, o senador Garibaldi Alves (PMDB) havia rompido com José Agripino (DEM) até a entrada de Quércia em campo.

Agora, admite apoiar a candidatura ao governo da senadora Rosalba Ciarlini (DEM). Ou seja, mais um palanque para Serra. Por ironia, o PSDB, que hoje Quércia ajuda, nasceu de uma dissidência do PMDB. Mas as conveniências políticas os reaproximaram e o novo casamento está em curso, pelo menos até que outra eleição os separe.

De olho no Senado Federal, o ex-governador Orestes Quércia está disposto a esquecer o passado. Na quarta-feira 20, ele recebeu ISTOÉ para falar como tem sido sua convivência com os antigos desafetos do PSDB e sobre sua estratégia para atrair o PMDB para a candidatura de José Serra.

ISTOÉ - O sr. é o grande articulador político do governador José Serra?
QUÉRCIA - Não sou o grande articulador. Tomamos uma decisão no PMDB de São Paulo de não seguir esse processo que acontece em nível nacional que é de apoio a um candidato. O PMDB apoia o governo, mas não tem o compromisso de apoiar uma candidatura. Existe um movimento dentro do PMDB, e é forte, de apoiar uma alternativa que não seja do PT. São as pessoas que gostariam que o PMDB tivesse candidato próprio, o que hoje é difícil.

“Respeito muito o Aécio, mas o quadro hoje é favorável ao Serra”

ISTOÉ - Por que, se o PMDB apoia o governo, não apoiaria o candidato do governo?
QUÉRCIA - Porque seria ruim para o País a continuidade do projeto do PT. No nosso ponto de vista, o governo perdeu a oportunidade de fazer o País começar a crescer de fato. O PT sairá do governo sem nada, sem obras, sem aprovar os projetos fundamentais da legislação trabalhista, da reforma política, da reforma previdenciária. Então, nós achamos que é preciso mudar e a opção que se tem é o Serra. Sempre fui contra o PT.

Sérgio Pardellas

ISTOÉ - Como tem sido essa convivência com os tucanos?
QUÉRCIA - Tudo bem. No passado, nós estávamos todos juntos no MDB. Houve problemas, houve separação. Acho que houve uma classificação assim muito de dizer que “saíram por causa do Quércia”. Tudo bem. Deve ter sido. O Mário Covas não queria sair.

Custou a sair. Mas assumi o governo e se imaginou que eu teria uma força para dominar o partido. E tive. Foi um processo político. Sempre me dei bem com o Serra, com o Fernando Henrique [Cardoso].

ISTOÉ - O que é “se dar bem”?
QUÉRCIA - Se dar bem. Socialmente. Nunca há nada pessoal. Por isso estamos trabalhando para o PMDB apoiar o Serra em nível nacional.

ISTOÉ - Qual a chance de o PMDB surpreender, desta vez, e ficar unido?
QUÉRCIA - Temos um quadro positivo. A dificuldade é a área parlamentar, que depende muito do governo. É difícil para eles anunciar, fazer mudanças agora. Na Bahia, tenho conversado com o Geddel [Vieira Lima, ministro da Integração Regional]. Ele não é uma liderança da Bahia, ele é a grande liderança da Bahia. Então, qual a alternativa do Geddel? É ser candidato a governador.

Ele vai concorrer com o PT. Ele não pode perder essa oportunidade. Existe a oportunidade de o Democratas apoiar o Geddel. Como o próprio Jader [Barbalho]. Ele não se dá bem com a governadora do PT [Ana Júlia Carepa]. As circunstâncias podem ajudar bastante. Tenho conversado também com o [Roberto] Requião. Se o PMDB tivesse condições de lançar um candidato a presidente, seria o Requião. Em Santa Catarina, o Luiz Henrique também tem feito um governo extraordinário. Mas hoje é difícil os governadores tomarem uma decisão.

ISTOÉ - E em Minas Gerais? QUÉRCIA - Em Minas, o adversário principal do Hélio Costa [ministro das Comunicações e candidato ao governo em 2010] é do PT. ISTOÉ - E se o PSDB escolher o governador mineiro Aécio Neves? Todas as articulações são só para o Serra? QUÉRCIA - Se for Aécio, vamos precisar reformular. São conversas para o Serra. Mas, se ele apoiar o Aécio, nós estaremos com o Serra, apoiando o Aécio. Eu respeito muito o Aécio, mas acho que o quadro hoje é favorável ao Serra. Ele está melhor nas pesquisas.

ISTOÉ - Como o sr. avalia o fator doença para a candidatura da ministra Dilma Rousseff? QUÉRCIA - Estamos torcendo para que ela supere. Eu tive câncer na próstata. Resolvido o problema, como acho que ela vai resolver, não tem mais problema nenhum. Acho que não prejudica a campanha dela. Até ajuda.

O Lula tem sido hábil na condução. O Lula é hábil em tudo, menos em governar o País.

ISTOÉ - Qual a principal resistência ao nome de Serra no PMDB?
QUÉRCIA - Olha, não tenho sentido nenhuma resistência ao nome do Serra, não. Todos no PMDB são amigos do Serra. O Serra votou no Jader [Barbalho] para presidente do Senado. O Geddel é amigo do Serra. O Requião também. O Jarbas [Vasconcelos], o Íris [Resende]. ISTOÉ - O sr. tem falado com o Aécio? QUÉRCIA - Não. Nos encontramos numa feira de gado em Uberaba, mas não falamos sobre política.

ISTOÉ - No Rio de Janeiro, como está a situação?
QUÉRCIA - O governador [Sérgio Cabral] está com o PT, mas temos no Rio muita gente que pode apoiar o Serra.

ISTOÉ - Quem?
QUÉRCIA - (rindo) Muita gente. Gente nossa. Posso dizer que tem.

ISTOÉ - O sr. passou por um grande desgaste de imagem. Qual a sua imagem política?
QUÉRCIA - É boa. Meu governo é muito bem avaliado. Foi o governo que mais fez metrô. Fez estradas.

ISTOÉ - O sr. não teme receber a mesma crítica feita ao PSDB, por exemplo, sobre os pedágios? QUÉRCIA - Nunca fiz pedágio. Fiz estrada sem pedágio. Mas já disse para o pessoal de marketing que nós vamos fazer campanha preocupados com o futuro, não com o passado.

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