Seiscentos e quarenta e cinco municípios vasculhados, 2.191 pessoas detidas, 9.299 homens em ação, 1.601 mandados de prisão cumpridos, 57 quilos de maconha apreendidos e 23 de cocaína. Apesar da precisão matemática usada pela Secretaria de Segurança Pública na hora de divulgar os números da Operação Gênese, realizada em todo o Estado no último dia 29, as autoridades paulistas não têm computados quantos dos criminosos capturados foram efetivamente presos na ocasião ou liberados pelas delegacias - isso mais de dez dias após a citada força-tarefa.
O perfil das pessoas levadas pelos camburões também foi outra informação que não chegou ao comando da Polícia Civil. Hoje, a cúpula do órgão em São Paulo não consegue responder, de pronto, quem efetivamente foi detido. Assim, não é possível analisar se todo o esforço serviu para tirar das ruas grandes criminosos ou pais que não pagaram pensão aos filhos. Segundo o delegado André Dahmer, coordenador de Planejamento e Projetos Estratégico da Delegacia Geral de Polícia, esses dados não foram considerados "relevantes" para serem tabulados ao final da operação. "Isso não foi centralizado. Limitamos as informações pedidas para as unidades. Só levantamos os números gerais, como casos de flagrantes e total de presos", argumenta ele.
Um dos responsáveis pela inteligência da Gênese, Dahmer explica que a inexistência das estatísticas "não significa que a Polícia Civil não sabe o que aconteceu com as pessoas". Como ele explica, cada região conhece a importância das prisões e acompanha os casos. "Cada departamento faz esse monitoramento", diz. Apesar de defender a conduta, ele assume que, nas próximas oportunidades, pode haver uma mudança de comportamento. "Nunca ninguém tinha nos pedido isso (o número de pessoas efetivamente encaminhadas para o sistema penitenciário e o perfil dos 2.191 capturados). Seria o caso de avaliar se vale a pena produzir esses índices", afirmou.
Em um balanço final, o delegado se diz satisfeito com o trabalho desenvolvido. "A lógica da operação é composta por três pontos. Um é o exercício de mobilização, que reuniu 10 mil homens. É uma forma de testarmos esse tipo de ação, de saber nossos problemas. Ajuda a treinar para enfrentar alguma situação que necessite de união de forças", conta. "Além disso, com os números que alcançamos e com a repercussão, elevamos a auto-estima do nosso público interno. Em terceiro, cito a visibilidade de fazer o esforço em um dia, o que mostra para a população que estamos atuantes", alega.
"Entrega e vai embora"
Especialistas ouvidos discordam do comandante da Gênese. Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, aponta que a lacuna estatística é um indício da falta de diálogo entre a polícia e o sistema prisional. "É um sinal muito ruim que o comando geral não saiba dizer o paradeiro dos detidos. É o resultado de uma operação em que você está comprometido. Tem que saber se ele continua preso, quando ele pode sair, se ele está indo para uma prisão em que encontrará comparsas. Não é entregar e ir embora. Se a operação realmente está prendendo gente que importa, tem que acompanhar", argumenta.
Denis também questiona a ausência de informações sobre o perfil dos capturados. "Já que é para mobilizar, tem que ir atrás das cabeças. Tem que priorizar. Devem ser presas antes as ameaças reais", afirma. "Não adianta prender por 15 minutos para ficar algemado na frente do camburão e ir embora. Deve ser dada uma resposta à sociedade, mas ela precisa ser tirar de circulação as pessoas que estão de fato na criminalidade", critica o diretor do Instituto Sou da Paz.
A pertinência do uso de operações do tipo como forma de movimentação policial também é colocada em dúvida. José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva que é professor de planejamento estratégico do Centro de Estudos Superiores da Polícia Militar, estuda o funcionamento das corporações pelo mundo e afirma que tal tipo de estratégia é uma anomalia. "Está mais para marketing institucional do que para necessidade operacional. Esse tipo de ação se justifica quando você tem dados coletados, que recomenda a presença em determinado local quando algo está prestes a acontecer. Então, se o fulano vai sair do Mato Grosso e visitar uma favela em São Paulo ou você fica sabendo de uma partilha de drogas, vai lá com uma operação", explica o especialista, que já foi secretário nacional de Segurança Pública.
Segundo ele, "não se pode mobilizar o Estado todo sem motivo". Como ele conta, cada unidade tem sua agenda e não deveria ser atrapalhada com ordens uniformes. "Apenas correr para prender o maior número de pessoas não serve para nada. Esse tipo de conduta não afeta os índices de criminalidade, que só é melhorado com presença cotidiana do policial. Não podemos ter a polícia funcionando bem todos os dias do ano?", pergunta.
O coronel ainda discorda do alarde dado pela Secretaria de Segurança Pública aos números de apreensões no dia 29. "Posso afirmar que a corporação deve se portar discretamente, como um juiz de futebol que não atrapalha o jogo. Há uma tentativa de se copiar o sucesso midiático das operações da Polícia Federal, mas ela funciona de outra forma. A polícia de São Paulo precisa trabalhar sem pensar em aplauso. É um marketing de taba fazer esse alarde. O que importa é morrer menos gente e ter segurança para andar na rua", diz.Fonte: Uol Notícias
O perfil das pessoas levadas pelos camburões também foi outra informação que não chegou ao comando da Polícia Civil. Hoje, a cúpula do órgão em São Paulo não consegue responder, de pronto, quem efetivamente foi detido. Assim, não é possível analisar se todo o esforço serviu para tirar das ruas grandes criminosos ou pais que não pagaram pensão aos filhos. Segundo o delegado André Dahmer, coordenador de Planejamento e Projetos Estratégico da Delegacia Geral de Polícia, esses dados não foram considerados "relevantes" para serem tabulados ao final da operação. "Isso não foi centralizado. Limitamos as informações pedidas para as unidades. Só levantamos os números gerais, como casos de flagrantes e total de presos", argumenta ele.
Um dos responsáveis pela inteligência da Gênese, Dahmer explica que a inexistência das estatísticas "não significa que a Polícia Civil não sabe o que aconteceu com as pessoas". Como ele explica, cada região conhece a importância das prisões e acompanha os casos. "Cada departamento faz esse monitoramento", diz. Apesar de defender a conduta, ele assume que, nas próximas oportunidades, pode haver uma mudança de comportamento. "Nunca ninguém tinha nos pedido isso (o número de pessoas efetivamente encaminhadas para o sistema penitenciário e o perfil dos 2.191 capturados). Seria o caso de avaliar se vale a pena produzir esses índices", afirmou.
Em um balanço final, o delegado se diz satisfeito com o trabalho desenvolvido. "A lógica da operação é composta por três pontos. Um é o exercício de mobilização, que reuniu 10 mil homens. É uma forma de testarmos esse tipo de ação, de saber nossos problemas. Ajuda a treinar para enfrentar alguma situação que necessite de união de forças", conta. "Além disso, com os números que alcançamos e com a repercussão, elevamos a auto-estima do nosso público interno. Em terceiro, cito a visibilidade de fazer o esforço em um dia, o que mostra para a população que estamos atuantes", alega.
"Entrega e vai embora"
Especialistas ouvidos discordam do comandante da Gênese. Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, aponta que a lacuna estatística é um indício da falta de diálogo entre a polícia e o sistema prisional. "É um sinal muito ruim que o comando geral não saiba dizer o paradeiro dos detidos. É o resultado de uma operação em que você está comprometido. Tem que saber se ele continua preso, quando ele pode sair, se ele está indo para uma prisão em que encontrará comparsas. Não é entregar e ir embora. Se a operação realmente está prendendo gente que importa, tem que acompanhar", argumenta.
Denis também questiona a ausência de informações sobre o perfil dos capturados. "Já que é para mobilizar, tem que ir atrás das cabeças. Tem que priorizar. Devem ser presas antes as ameaças reais", afirma. "Não adianta prender por 15 minutos para ficar algemado na frente do camburão e ir embora. Deve ser dada uma resposta à sociedade, mas ela precisa ser tirar de circulação as pessoas que estão de fato na criminalidade", critica o diretor do Instituto Sou da Paz.
A pertinência do uso de operações do tipo como forma de movimentação policial também é colocada em dúvida. José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva que é professor de planejamento estratégico do Centro de Estudos Superiores da Polícia Militar, estuda o funcionamento das corporações pelo mundo e afirma que tal tipo de estratégia é uma anomalia. "Está mais para marketing institucional do que para necessidade operacional. Esse tipo de ação se justifica quando você tem dados coletados, que recomenda a presença em determinado local quando algo está prestes a acontecer. Então, se o fulano vai sair do Mato Grosso e visitar uma favela em São Paulo ou você fica sabendo de uma partilha de drogas, vai lá com uma operação", explica o especialista, que já foi secretário nacional de Segurança Pública.
Segundo ele, "não se pode mobilizar o Estado todo sem motivo". Como ele conta, cada unidade tem sua agenda e não deveria ser atrapalhada com ordens uniformes. "Apenas correr para prender o maior número de pessoas não serve para nada. Esse tipo de conduta não afeta os índices de criminalidade, que só é melhorado com presença cotidiana do policial. Não podemos ter a polícia funcionando bem todos os dias do ano?", pergunta.
O coronel ainda discorda do alarde dado pela Secretaria de Segurança Pública aos números de apreensões no dia 29. "Posso afirmar que a corporação deve se portar discretamente, como um juiz de futebol que não atrapalha o jogo. Há uma tentativa de se copiar o sucesso midiático das operações da Polícia Federal, mas ela funciona de outra forma. A polícia de São Paulo precisa trabalhar sem pensar em aplauso. É um marketing de taba fazer esse alarde. O que importa é morrer menos gente e ter segurança para andar na rua", diz.Fonte: Uol Notícias
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