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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

“Decisão é dos paranaenses”, diz Richa sobre candidatura

Richa, sobre a manutenção da aliança com o PDT de Osmar: “Se não for possível, paciência. Vamos para o enfrentamento”

Prefeito admite que deixar cargo é difícil, mas lembra que candidatura ao governo será balizada em pesquisas

Reeleito em 2008 com mais de 77% dos votos, o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), terá que tomar em 2010 decisão que marcará para sempre sua carreira política. O tucano tem até o dia 3 de abril para definir se renuncia ao cargo para disputar o governo do Estado nas eleições de outubro.

Apesar do favoritismo apontado pelas recentes pesquisas, trata-se de uma decisão difícil, que pode significar o ponto de partida para consolidar o tucano como o principal nome da política paranaense em caso de vitória, ou interromper uma carreira ascendente, no caso de um revés nas urnas. Em uma terceira hipótese, se decidir permanecer na Prefeitura, Richa pode não ter outra oportunidade com cenário tão favorável para disputar o Palácio das Araucárias.

Em entrevista exclusiva ao Jornal do Estado, o prefeito falou sobre seu futuro político, administração municipal e sobre a Copa do Mundo de 2014.

Jornal do Estado - Qual o balanço que o senhor faz desse primeiro ano do segundo mandato? Na sua avaliação, quais os aspectos mais positivos desse período, e que tipo de dificuldades teve que não esperava, e em que áreas?

Beto Richa – Entramos neste segundo mandato com o mesmo ritmo acelerado de obras do mandato anterior. Não me descuidei dos compromissos assumidos. Sempre procurei corresponder as expectativas de todos que confiaram em mim e me reelegeram com votação recorde. No primeiro mandato, realizamos 5,5 mil obras e neste novo mandato, o Luciano Ducci me passava outro dia, já são mais de 1,8 mil obras. Neste início de mandato, para que a equipe não se acomode ou crie vícios, lançamos mão dos contratos de gestão. Essa ferramenta moderna e transparente, já foi usada pelo governo federal e hoje é usada em Minas Gerais. Curitiba é a primeira cidade a usar o contrato de gestão. Meus secretários assumiram compromisso de cumprir metas e objetivos que eu estabeleci, baseados no plano de governo que apresentamos a população. Os secretários sabem que se não cumprirem as metas, serão desligados da equipe. Já fizemos duas avaliações quadrimestrais e o índice de cumprimento das metas foi altíssimo. As fortes chuvas foram as principais dificuldades inesperadas que encontramos. Em muitos lugares o pavimento já estava com a vida pra vencer das gestões anteriores. Abriram buracos em vários pontos da cidade. Mas já atuamos fortemente. Chegou agora uma moderna máquina de asfalto e temos também a usina de asfalto que implantamos há três anos. Estamos avançando bastante na pavimentação em toda cidade, mas as chuvas não deram trégua. Melhoramos nossa equipe de defesa civil, para atuar no período de verão.

JE - Em 2009, a prefeitura enfrentou problemas com a questão do lixo e do trânsito (licitação de radares). Como pretende resolver isso e em que prazo?

Richa – Recentemente saiu tecnicamente a classificação de uma empresa pela Tecpar e está para ser concluída a licitação dos radares, que devem estar com situação regularizada em janeiro. Agora, toda grande licitação tem concorrência predatória. Todos que perdem entram com recursos judiciais. A própria ministra Dilma (Roussef) reclamou e queria diminuir a fiscalização do Tribunal de Contas da União nas obras do Plano de Aceleração do Crescimento. Isso já sou contra. Tem que haver fiscalização. Tivemos problemas com o Tribunal de Contas, com o Tribunal de Justiça, mas tudo está sendo regularizado. Pedimos prudência aos motoristas neste período em que os radares estão desligados. Na questão do lixo, tivemos que derrubar quase trinta liminares. A licitação acabou atrasando mais de um ano em função destas liminares. O Instituto Ambiental do Paraná não respeitou o resultado da comissão que ele próprio formou, com representação de todos os órgãos estaduais. Eles foram unânimes em aprovar a proposta da Prefeitura de encerramento do Aterro da Caximba. Não respeitou e não sei o que está por trás disso. A Justiça foi ágil e nos deu oportunidade de continuar com as obras de ampliação da Caximba. Quero alertar a todos os moradores que estão sendo manipulados por interesses de grupos econômicos escusos, que a máfia do lixo está presente. Quero tranqüilizar os moradores da Caximba que não se deixem manipular por grupos econômicos. Pedimos alguns meses para adotar a nossa prática, que vai ser modelo nacional. Passamos dois anos estudando as melhores práticas de destinação do lixo no mundo. Pode ter certeza que foi a melhor escolha.


"Maioria quer me ver na disputa”

Jornal do Estado - Caso decida ser candidato ao governo, o senhor terá que se desincompatibilizar do cargo no início de abril. É uma decisão difícil?

Beto Richa – Não é fácil. Mas ao mesmo tempo tenho tranqüilidade para tomar esta decisão, já que a primeira satisfação que devo dar é para as pessoas que me elegeram, que são 77% dos curitibanos. As pesquisas que foram realizadas mostram que 80% dos curitibanos querem me ver na disputa eleitoral de 2010 e consideram que estou preparado para governar o Estado. Tenho esta tranqüilidade. Tenho este aval das pessoas que me elegeram e confiam no meu trabalho.

JE - A desincompatibilização é em abril, mas a convenção que escolherá oficialmente o candidato do PSDB acontece só em junho. Isso torna mais complicada sua decisão de deixar a prefeitura, já que não há garantia da candidatura? Acredita que até lá o partido se definirá?

Richa – Tenho um acordo com o senador Alvaro Dias, de que no início do ano nós vamos sentar e analisar as pesquisas para definir quem tem melhor condições para ser o candidato vitorioso ao governo do Estado, que agregue mais apoios, tenha os melhore índices e menor rejeição. Podemos fazer umas três ou quatro pesquisas com os institutos mais conceituados do país. Estamos transferindo a decisão para os paranaenses.

JE - A possibilidade de ter que enfrentar o senador Osmar Dias na disputa pelo governo – um antigo aliado – lhe preocupa? Acha que isso pode não ser bem entendido pela população?

Richa – Não tenho preocupação nenhuma. É uma aspiração legítima do senador querer disputar de novo. Nossa candidatura surgiu de forma natural e nunca saí anunciando como os demais concorrentes, de forma tão prematura. Atendi um apelo dos colegas do PSDB, que entenderam que há espaço para uma candidatura nova, com novo jeito de se governar. O caminho trilhado na administração de Curitiba pode ser adotado com a maior tranqüilidade no Estado. Aceitei este desafio e mesmo sem dizer que era postulante a indicação, meu nome sempre apareceu nas pesquisas. Em algumas delas em primeiro lugar. Estou na política para servir com ética e transparência.

JE - O senhor tem dito que gostaria de repetir em 2010 a aliança que o elegeu, mas até agora o PDT não admite qualquer possibilidade de abrir mão da candidatura própria de Osmar Dias ao governo. A divisão do grupo não pode favorecer os adversários e prejudicar, também, a candidatura tucana à Presidência no Paraná?

Richa – Disse que gostaria e que vou até o último momento defender esta tese. Se não for possível, paciência. Vamos para o enfrentamento. Mas com certeza, com uma campanha limpa e propositiva. Sempre respeitamos os adversários e o povo, que quer saber das propostas dos candidatos. Não querem saber de ataques ou armações. Passei por isso nas últimas eleições, onde fui muito atacado. Sequer respondi. Quanto mais me atacavam, mais aumentavam os índices de rejeição dos meus adversários. Concentrei meus esforços em apresentar propostas. Continuo muito empolgado com a candidatura presidencial do José Serra. Foi o melhor ministro da saúde do Brasil e está preparadíssimo. No Paraná, todo partido está preparado para apoiá-lo. (AB)

Apoio do PMDB é bem-vindo

Jornal do Estado - O PSDB se declarou oficialmente como oposição ao governo Requião, do PMDB, após ataques do governador ao senhor e sua família. Agora, setores dos dois partidos negociam uma composição para as eleições. Uma aliança entre os dois partidos nessas circunstâncias não seria incoerente?
Beto Richa – Quem atacou foi o governador Requião e não o PMDB. É preciso separar as duas coisas. Um dos fundadores do MDB velho de guerra foi meu pai, ao lado de figuras ilustres. Muitas lideranças do PMDB de hoje são remanescentes daquela época e manifestaram desejo de integrar o nosso projeto. São bem vindos. Tenho com eles uma relação muito cordial. Todos os partidos conversam entre si e este é o momento para isso. Do nosso lado, estas conversas têm se intensificado e avançado bastante. Mas posso garantir que não vamos violentar nossa consciência e nossos propósitos para formar alianças que nos envergonhem. Todos que comungarem dos nossos ideais são bem vindos. Agora, o PMDB tem uma candidatura colocada e deve ser respeitada. Agora, se ela não se concretizar, o PMDB é bem vindo.

JE - Ainda não há financiamento garantido para a construção do metrô de Curitiba e também existem dúvidas sobre a viabilidade do metrô ficar pronto para a Copa de 2014. Quando e como o senhor espera resolver isso?

Richa – Recebemos aqui a visita do ministro Paulo Bernado, que nos explicou o governo não poderá liberar recursos a fundo perdido. Ou seja, que a Prefeitura não precisasse pagar depois. Ele explicou que as obras para Copa do Mundo serão através de financiamentos. Isso foi uma surpresa para todos os prefeitos. Achávamos que o governo federal iria garantir obras a fundo perdido. Então, entre pegar agora o dinheiro, que estaria na mão, e comprometer as finanças do município por trinta anos, ou esperar três ou quatro meses pelo lançamento do PAC 2 e, aí sim, sem que a prefeitura tenha que pagar por isso. É prudente que eu haja desta maneira. Nunca tivemos metrô em Curitiba. Não tem problema esperar mais alguns meses. Ao tirar este recurso do metrô da relação de obras da Copa do Mundo, posso incluir outras obras viárias nestes mesmos recursos. Saímos ganhando duas vezes. (AB)

Sem choque de gestão, ideias não resolvem

Jornal do Estado - Na sua avaliação, quais os principais desafios que o próximo governador do PR terá que enfrentar? Quais devem ser as prioridades do próximo governo?

Beto Richa – Os desafios são enormes em todas as áreas. É preciso muito empenho e competência. Acima de tudo um bom gerenciamento dos recursos públicos. Pegamos a Prefeitura com um pequeno déficit e conseguimos transformar em superávits sucessivos. Isso sem deixar de honrar nossos compromissos. Pagamos os precatórios, todos os compromissos honrados e aumento, com índices acima da inflação, ao funcionalismo. Se não houver choque de gestão, não adianta ter ideias mirabolantes. O primeiro passo é colocar a casa em ordem.

JE - O atual governo tentou resolver a questão do pedágio com ações judiciais, o que não deu certo? Como deve ser encaminhada essa questão?

Richa – Primeiro é a busca do diálogo, que não há hoje. Não apenas não abaixou e não acabou, como investimentos deixaram de acontecer. Foi altamente prejudicial para todos os paranaenses. Com clareza, temos que chamar todos para conversar. Abrir as planilhas de custos que compõem a tarifa e fazer valer o interesse público. Mostrar as concessionárias que precisamos ter uma tarifa compatível, com investimentos necessários.

Oposição deve oferecer mais clareza

Jornal do Estado - No plano nacional, a oposição parece acuada pela alta popularidade do governo Lula, e o bom momento econômico do País. Na sua opinião, o que a oposição, em especial o PSDB, tem a oferecer ao País de diferente em relação ao atual governo?

Beto Richa – Mais clareza. O partido deve agir com ética, que não aconteceu no atual governo. Apesar de todos os escândalos e desvios de conduta do PT, o presidente ainda conseguiu se manter com altos índices de popularidade. Quem chegar ao poder deve se pautar pela ética e decência, para dar a governabilidade esperada.

JE - Os recentes escândalos envolvendo o DEM e até setores do PSDB não colocam em xeque o discurso da oposição, sobre os desvios éticos do PT e de seus aliados? Como combater a sensação de que “todos são iguais”, que prevalece hoje em relação aos partidos?

Richa – As denúncias estão sendo investigados e não podemos fazer qualquer tipo de acusação. É evidente que as imagens são chocantes. Mas não é por causa de uma ou outra figura que agiu de forma irresponsável ou criminosa, que vai contaminar todo o partido. Diferente do que aconteceu com PT. Todas as principais lideranças estavam envolvidas em escândalos. No caso do mensalão era tesoureiro, o chefe da Casa Civil, o presidente do partido, o secretário geral. Quer mais do que isso? Evidente que o PSDB, se comprovado isso tudo, vai tomar as providências cabíveis para expulsão dos envolvidos.Fonte: Bem Paraná, reportagem de Abraão Benício

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